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Cuidados redobrados com a saúde da visão das crianças em idade escolar

Boa visão é essencial para que as crianças se possam desenvolver e atingir todo o seu potencial. A sua importância abrange diversas instâncias da vida do indivíduo, que vão desde a perceção, cognição, interação social até à aprendizagem e ao desenvolvimento intelectual. Por falta de melhor referencial, uma criança pode assumir que a sua atual má visão é visão “normal”.  É por isso crucial que os adultos estejam atentos à visão das crianças e procurem analisar e comparar os vários parâmetros optométricos que permitem avaliar a visão das crianças com medidas objetivas e exatas, tal como se faz numa consulta de Optometria.

Segundo o Programa Nacional para a Saúde da Visão da Direção-Geral da Saúde, perto de 20 por cento das crianças portuguesas sofre de erros refrativos significativos. Miopia, hipermetropia, astigmatismo, ambliopia e estrabismo manifestam-se, na sua maioria, em tenra idade, e a sua adequada compensação através das lentes adequadas é possível se a deteção for feita atempadamente por um especialista dos cuidados da saúde da visão.

Porém, antes de um optometrista ou de um oftalmologista efetuar o diagnóstico, os pais, os educadores e os professores desempenham um papel crítico, dada a sua proximidade e convivência com as crianças, sendo frequentemente as primeiras pessoas a detetar dificuldades visuais nas crianças, e por isso devem estar atentos aos sinais de alerta.

A idade escolar é um período da vida da criança em que é possível observar alguns comportamentos indicativos da presença de uma alteração na visão, nomeadamente: aproximar-se muito para ler, escrever ou desenhar; durante a leitura, seguir o texto com o dedo; apresentar dificuldades de concentração; cometer erros ortográficos com frequência na cópia de textos; esfregar os olhos com muita frequência; trocar a orientação das letras; semicerrar os olhos para ver ao longe (por exemplo, para ler o que está escrito no quadro); ou queixar-se de cefaleias, dores de cabeça, ou ardor nos olhos.

Qualquer limitação à visão tem impacto significativo no rendimento escolar da criança (estudos afirmam que 75 por cento dos fracassos escolares podem dever-se a problemas de visão) e pode causar perda de visão irreversível, denominada como ambliopia, conhecida popularmente como olho preguiçoso.

Contudo, cada caso é um caso, e o tipo de sinais e sintomas depende da condição visual que afeta a criança. Desta forma, convido-o/a a conhecer um pouco melhor algumas das alterações visuais mais frequentes na infância:

Miopia: Carateriza-se por uma visão desfocada dos objetos situados ao longe e visão mais nítida dos objetos próximos. Na presença desta condição, as imagens dos objetos situados a mais de cinco metros atingem a retina de forma desfocada, dado que o foco da imagem se encontra antes da retina.

Hipermetropia: É um erro refrativo que, apesar de estar relacionado com um problema de focagem em visão de longe, produz as suas consequências mais significativas na visão de perto. Esta condição visual consiste no estado de refração ocular em que um feixe de raios de luz paralelos, proveniente dos objetos situados ao longe, ao atravessar a córnea, foca-se e forma uma imagem para além da retina.

Astigmatismo: É um erro refrativo caraterizado pela variação de potência refrativa ao longo dos diferentes meridianos do olho. Implica que há determinados pormenores da imagem que estarão mais desfocados do que outros. Os efeitos produzidos variam consoante a gravidade. Nos casos que apresentam pequeno grau astigmático, podem não surgir efeitos típicos, havendo apenas astenopia, cansaço visual com esforço prolongado de visão, uma vez que a pessoa tenta obter uma imagem mais nítida com maior tempo de fixação. Entre diversos outros efeitos, são também comuns fotofobia, a dificuldade de encarar a luz, bem como irritação conjuntival acompanhada de picadas.

Ambliopia: Também conhecida por «olho preguiçoso», esta condição consiste na diminuição da acuidade visual de um ou dos dois olhos, não melhorável com óculos ou lentes de contacto, devido a problemas no desenvolvimento da visão, e afeta principalmente as crianças. Uma diferença significativa na qualidade de visão entre os dois olhos é um sinal fortemente associado à ambliopia unilateral. A dificuldade em ler um livro ou realizar tarefas visuais simples, mesmo com recurso a óculos ou lentes de contacto, são sinais associados à ambliopia bilateral.

Estrabismo: Consiste na incapacidade de fixar os dois olhos com a visão central, simultaneamente, no mesmo objeto. Um sinal típico é um evidente desalinhamento entre os dois olhos, embora haja casos onde o desalinhamento não é evidente. Os olhos devem estar orientados para o mesmo ponto de fixação, em todas as posições e movimentos. Se os olhos não se dirigem exatamente para o mesmo ponto de fixação, o cérebro perceciona duas imagens do mesmo objeto, que não consegue fundir, e a criança acaba por ter visão dupla. Para além de impedir a perceção tridimensional, o estrabismo pode levar a que o olho desviado perca ou não desenvolva função visual.

Os cuidados com a saúde da visão estendem-se a qualquer criança.

Apesar de existir um especial cuidado com a saúde da visão das crianças que apresentam alguma alteração da visão, importa não esquecer que é estritamente necessário que se tomem medidas preventivas para o desenvolvimento de condições visuais ou doenças oculares em idades posteriores. Desta forma, toda a família deve seguir as seguintes recomendações:

  • Iluminar a divisão da casa sempre que a criança está a estudar ou a utilizar um dispositivo tecnológico, de modo a reduzir o esforço visual;
  • Garantir que a criança esteja a uma distância adequada da televisão, smartphone, computador, tablet, etc.;
  • Fazer pausas, olhando para longe, para descansar a visão a cada hora;
  • Regularmente comparar a visão entre os dois olhos da criança;
  • Sempre que sair à rua, utilizar óculos de sol com uma correta proteção contra raios ultravioleta;
  • Não utilizar o telemóvel antes de ir dormir ou quando estiver na cama;
  • Dormir o número de horas recomendado, para garantir o descanso da visão;
  • Consultar regularmente um optometrista ou um oftalmologista.

Raúl de Sousa

Optometrista e presidente da APLO – Associação de Profissionais Licenciados de Optometria

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