Não é da inqualificável posição do executivo camarário em relação aos comerciantes do Mercado Municipal que pretendo elaborar algum pensamento com este texto. Os próprios saberão defender-se e têm já milhares de apoiantes perante as injustiças que lhes estão previstas. Certamente a força da sua razão levará avante as suas pretensões.
O que é preciso é refletir sobre o que poderá ser o melhor serviço a prestar aos munícipes no que se refere à ocupação daquele magnífico edifício classificado. Atualmente ainda acolhe alguns pequenos comerciantes e é frequentado por muito poucos clientes, o que o torna um espaço sem conteúdos e sem a atratividade que o seu aspeto exterior sugere.
Passará o seu futuro por manter essas valências que presentemente não geram qualquer interesse à maioria dos scalabitanos?
Parece que o projeto da sua ocupação, não é muito concreto no que diz respeito ao tipo de oferta a que se propõe. O que se tem ouvido e lido, indicia uma gestão do espaço por uma empresa nacional (gestora de grandes superfícies comerciais), certamente insensível às necessidades prioritárias dos munícipes e que, na sua legítima ótica da rentabilidade, procurará que o espaço seja ocupado com ofertas já habituais nos grandes centros comerciais e com pouco a ver com o que tem sido tradicional naquele mercado.
Discordando do método e do modo previstos para esse tipo de ocupação, penso no entanto que poderia ser uma maneira, embora forçada, de rever todo o processo concentrado de distribuição dos produtos tradicionalmente oferecidos no nosso mercado, sugerindo à CMS que, como gestora da coisa pública, assegure aos scalabitanos alternativas de consumo de proximidade com a criação de pequenos mercados (por exemplo, um em S. Domingos e outro no Sacapeito/Campo Emílio Infante da Câmara), essenciais para o escoamento de muitos artigos produzidos nas freguesias do Concelho e facilitadores da acessibilidade de uma população tendencialmente mais envelhecida e de mobilidade condicionada.
Não acredito que a continuação do mesmo tipo de oferta no futuro mercado, tenha viabilidade económica. Por várias razões: 1- Encontra-se afastado dos principais centros habitacionais da cidade; 2- Não existe estacionamento gratuito nas proximidades; 3- As pessoas com viatura própria têm mais alternativas com estacionamento gratuito e com oferta mais diversificada; 4- Difícil acesso a pessoas com mobilidade dificultada, como o são a grande maioria dos idosos que vão crescendo em número, nesses aglomerados populacionais.
Conceder aos atuais comerciantes espaços no mercado remodelado, é projetar à grande maioria deles, um futuro sem viabilidade e um destino igual ao dos outros que, até há uns anos atrás enchiam as bancas com peixe do rio e com as frutas e hortícolas produzidas pelos pequenos agricultores do concelho.
A solução será a implantação de mercados de proximidade? Penso que essa seria uma boa solução, mas não há nada como estudar a sua viabilidade, consultar quem pode ter uma opinião abalizada sobre o tema e, porque não, promover um debate aberto sobre o assunto.
Antes de tudo, é preciso haver vontade política para inovar racionalmente e colocar na frente os interesses dos munícipes.
Armando Leal Rosa