Há pouco mais de um ano escrevi no saudoso semanário “O Ribatejo” uma crónica sobre o Turismo, ou melhor, o “não Turismo” que se faz em Santarém e quase poderia repetir o texto, se não houvessem novas situações que nos deixam ainda mais pessimistas.
Santarém tem condições excecionais para ser a cidade em que o turismo possa ser a grande alavanca de desenvolvimento. Senão vejamos:
É uma cidade com três mil anos de história, com uma monumentalidade com que nenhuma outra cidade, dita de província, se pode comparar; tem acessibilidades como não se conhecem a nenhuma outra: três autoestradas, ferrovia, aeródromo, rio Tejo; com um potencial enorme junto de visitantes do Brasil (túmulo de Pedro Álvares Cabral e consulado); situada a meio do trajeto Lisboa-Fátima (talvez o circuito que mais movimenta turistas em Portugal).
Perante todo este manancial de condições e oportunidades, apenas continuam a ser promovidos fora de portas, o festival de gastronomia e o parque aquático, tudo herdado de anteriores executivos do PS, o que mostra bem a falta de novas iniciativas que ultrapassem em visibilidade, os limites do Concelho. Claro que há a FNA e FERSANT, cuja organização e divulgação não passam pela Câmara.(Estou a ser injusto ao não mencionar o importante investimento que foi a “Praia Fluvial de Santarém”, fruto do brilhante pensamento e, certamente o orgulho de um vereador visionário do executivo de Moita Flores.)
Entretanto a CMS encomendou um estudo a uma entidade externa, chamado ”Plano Estratégico de Valorização Turística para o Município de Santarém” que esteve pronto em finais de 2017, não se compreendendo porque só este ano foi divulgado, perdendo-se, pelo menos um ano de execução.
Neste Plano não está previsto qualquer tipo de investimento em parques de Campismo ou Autocaravanismo. Teria sido por isso que a Câmara não se candidatou aos apoios para esse fim e que foram aproveitados pelos concelhos vizinhos de Almeirim, Cartaxo, Coruche e Rio Maior? Santarém é a única capital de distrito que não possui um equipamento desses e não são aproveitados apoios a fundo perdido, para o efeito. Grande visão! Certamente o objetivo é apostar no turismo de luxo para se ocuparem os vários hotéis de 5 estrelas, que abundam no Concelho…
Também não está previsto qualquer estudo do impacto provocado pela mudança da linha do Norte, prevista para daqui a dez anos e que irá mudar radicalmente o acesso ao rio, o seu aproveitamento e o futuro papel da Ribeira.
Encomendar Planos Estratégicos para o turismo, poderia dar alguma esperança aos munícipes, mas uma Câmara que não fez nada pelo turismo durante mais de dez anos e que tem pela frente um Plano que prevê a implementação de 32 medidas para este ano, só pode originar algumas gargalhadas a quem conhece o que a casa gasta…
Vão, os nossos edis, continuar a frequentar festas e festinhas, cerimónias mediáticas, eventos nas freguesias, procissões, missas, funerais e outras atividades, não duvido que meritórias e fundamentais, para manter a certeza da reeleição. O restante trabalho ficará a cargo dos assessores e técnicos, cuja capacidade e competência até agora demonstradas, nos deixa muito apreensivos quanto ao futuro do Turismo e do Concelho
Este provincianismo bacoco, vai deixando Santarém e o seu potencial turístico cada vez mais distante das boas práticas e do desenvolvimento que se vêm noutras cidades. Nem é preciso serem capitais de distrito, para nos envergonharem a nós, scalabitanos.
Manuel Rezinga