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“Influencers”, uma praga?

O estival mês de Agosto convida a uma escrita alegre e jovial sobre temas ligeiros, simpáticos, que não provocam grandes achaques ou incómodos aos estimados leitores.

Nessa senda, ponderei redigir um pequeno e anódino texto acerca da retumbante vitória do Benfica na final da Supertaça Cândido de Oliveira. Um triunfo de mão cheia contra um adversário que, invocando o estatuto de leão rampante, vem sendo comparado, nas ambíguas redes sociais, à psicotrópica e sempre polémica canábis: também é verde e faz rir.

Reflecti bastante e cheguei à conclusão de que os humores associados ao futebol são de tal forma intensos que estaria a perturbar a sanidade de muitos dos meus concidadãos. Alguns até mudam o seu normal trajecto da praia para casa, desgastando, dolorosamente, as calosas solas dos pés, de modo a evitar contactos com benfiquistas conhecidos (“juro” que não sou um desses lampiões). Assim, demovi-me de tão cruel iniciativa. O futebol, de facto, não encaixa na descrição apresentada no primeiro parágrafo deste artigo.

Seria rude, no entanto, se não louvasse o Sporting Clube de Portugal por ajudar à festa! E se ajudou!…

Ora, não conseguindo fugir à seriedade, escolhi um assunto que – parecendo aéreo e vaporoso – me causa calafrios: os influencers. Nada me move contra a vetusta arte de influenciar ou persuadir terceiros, desde que esta se suporte em princípios de honestidade intelectual e/ou na defesa de legítimos interesses. Aliás, em todos os ramos da vida em sociedade existem pessoas notórias capazes de transformar as suas opiniões em máximas ou recomendações seguidas, com maior ou menor rigor, por outros indivíduos.

O que me deixa deveras preocupado são aqueles que se dedicam à tarefa quase-exclusiva de aconselhar os seus fãs nos domínios da saúde, exercício físico, finanças, etc., sem qualquer formação ou experiência profissional de relevo, apenas por virtude de uma fama obtida através dos meios audiovisuais ou do advento generalizado das redes sociais. Não me importam, garantidamente, os que cingem a sua actividade suasória a matérias que, na pior das hipóteses, originam rombos de pequena monta nas nossas carteiras, mas, quando os alvitres implicam riscos graves para as integridades física e/ou psicológica de quem acata as sugestões, emerge a inquietação.

Desconhecendo a realidade portuguesa – porém, acreditando que dificilmente divergirá –, aludo a um estudo conduzido pela Universidade de Glasgow, entre 28 de Abril e 1 de Maio de 2019, que conclui que tão-somente um em cada dez influencers baseia as suas “lições” em conhecimento científico e propõe produtos e marcas de maneira desinteressada e transparente. Um em cada dez!

Os fenómenos de massas não admitem leviana desconsideração, porquanto os seus efeitos, sejam estes positivos ou negativos, se podem repercutir, com proporcionais amplitude e veemência, na comunidade humana. Atenda-se, por exemplo, ao que está acontecer em diversos países, ditos de primeiro mundo, no que toca ao ressurgimento e/ou recrudescimento de doenças víricas; e tudo por força das disseminadas maluqueiras dos movimentos antivacinas!

Por conseguinte, no meu entender, o Estado Português deve acentuar a vigilância e a regulação dos conteúdos disponibilizados por estes alvitreiros do século XXI, se e quando versarem sobre áreas cujos concernentes ofícios estão sujeitos a credenciação específica para o respectivo desempenho.

Sinceramente, não quero que o meu filho – sim, agora tenho um! – venha a sofrer com as neoparvoeiras de um neo-irresponsável!

João Salvador Fernandes

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