Gosto de pessoas que sentem o que dizem, que sentem o que sente o seu próximo, que se expressam lado a lado com a pessoa mais fraca, que se revoltam contra a injustiça mesmo que não seja com eles – injustiça é injustiça, ponto.
O meu amigo é um jovem que admiro, que não tem tiques de fingimento, de parecer bem à socialite in, que veste como eu, que fala como eu e que luta como eu.
Ontem ele escreveu no seu facebook:
“Hoje conheci uma mulher de 87 anos, moradora em Miragaia. Nasceu na casa onde vive. Há uma semana, o novo senhorio (uma imobiliária) emitiu uma ação de despejo. Tem 10 dias para sair. Recebe cerca de 400€ de pensão e a alternativa que lhe apresentaram tem o valor da sua pensão (…) à vizinha, destruíram-lhe o quarto de banho. Os gatos, a sua única companhia à noite, foram vítimas de uma tentativa de envenenamento”.
Amigos estão a tentar apoio jurídico, tratar-se-á de assédio não permitido pelas leis 12/2019 e 13/2019. Leis que a imobiliária não quer respeitar.
De algum modo este meu amigo, o Luís, fez-me lembrar o Padre Maximiano, assassinado à bomba pela organização de extrema-direita MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal) em 2 de abril de 1976. O Padre Max, como era chamado, estava acompanhado de Maria de Lurdes que ensinava os iletrados a ler nas aldeias do norte. Ambos morreram na explosão da bomba mas ainda hoje são recordados.
O Padre Max era assim: frontal e confiante. Tinha uma frase que nunca foi esquecida “servir o povo e não servir-se dele”. É a frase de quem escolhe um lado, o dos mais fracos, o da generosidade, o do prazer de ajudar, o da coragem de lutar…
Eu tenho orgulho neste património cultural e ideológico: o orgulho de quem não tem medo, o orgulho de quem sente sua a dor alheia, o orgulho de quem escolhe um lado.
Foi neste valores que tentei construir-me, cabeça erguida, olhos nos olhos, escolhendo um lado!
Abomino quando me dizem que “são todos iguais”. Ofendem, mesmo que na sua insciência, todos e todas as pessoas que deram o melhor da sua vida e até a sua própria vida para lutar contra as injustiças e melhorar a vida humana. Abomino mas compreendo: muitas destas pessoas construíram-se no vazio de ideias, na incompreensão da vida, na desilusão deste regime putrefacto, no conflito individual e não na solidariedade de uma comunidade!
Há pessoas que objetivamente pertencem a um lado, mas nem sabem ao que pertencem! No seu desacerto de raiva tomam o todo por uma parte e percorrem uma vida labiríntica sem luz ao fundo do túnel!
Desde 1789, desde a Revolução francesa, que o lado da mulher de 87 anos moradora em Miragaia é o lado esquerdo dos valores do futuro: liberdade, igualdade e fraternidade!
Vítor Franco