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Suicídio em idade activa (IV)

A presente crónica, bem como as anteriores (I, II e III), é resultante da selecção de algumas passagens do estudo epidemiológico ‘Influência da taxa de desemprego no suicídio em população em idade activa em Portugal no período de 2014 a 2017’ da minha autoria.

Laliotis e Stavropoulou (2018) concluíram que, em tempos de crise e recessão, a população mais afectada era a população em idade activa (devido à perda de emprego, redução salarial).

Contudo, mais importante do que o aumento da taxa de desemprego parece ser o seu estado basal. Um aumento do desemprego em níveis baixos de desemprego associa-se a uma redução da mortalidade, ao passo que o aumento em níveis altos de desemprego associa-se a um aumento da mortalidade (Bonamore et al, 2015). As respostas psicológicas não reagem linearmente às condições económicas. Isto porque em ambientes com baixos níveis de desemprego as respostas são positivas, ao passo que respostas negativas prevalecem em locais com elevados níveis de desemprego (recessão económica), devido à maior dificuldade em encontrar emprego e à maior dificuldade de coping/adaptação em ambientes economicamente deteriorados.

Os períodos de recessão económica estão associados a aumento do número de suicídios, possivelmente devido a um acumular de preocupações que podem pôr em causa a saúde mental (Haw et al, 2015).

O emprego é um dos principais factores de integração social, permitindo um vínculo social importante (identidade social), proporcionando uma rede de relações inter-pessoais e criando o sentimento solidário de participação na vida económica do país. A sua ausência pode conduzir à desregulação das referidas relações inter-pessoais e desagregação do indivíduo em relação à Sociedade. É uma forma de exclusão social que conduz à quebra do vínculo com o sistema social designado por mercado de trabalho (Costa, 1996).

A perda de emprego modifica os ritmos diários, desde a alteração dos horários às modificações dos rituais do quotidiano, o que conduz à fragilização da personalidade ou à sua destruturação.

A perda das relações sociais do posto de trabalho origina, no desempregado, o isolamento, que pode criar tensões no seio familiar, podendo aí determinar rupturas, e conduzir a comportamentos de agressividade, depressão e alcoolismo, entre outros (Clavel, 1998).

Tal como no luto, os indivíduos que ficam desempregados atravessam diferentes fases, que possuem diferentes características: fase de incredulidade, fase de negação, fase de angústia, fase de identidade como desempregado. A compreensão das diferentes fases é um contributo na percepção de qual o período de maior risco para o suicídio.

A percepção da variação de todas estas circunstâncias impõe um acompanhamento particularmente rigoroso dos indicadores de saúde, no sentido de perceber o seu impacto, e exige o repensar do sistema de saúde no sentido de o dotar de maior capacidade de resposta (Portugal. OPSS, 2014).

André Arraia Gomes

Nota do autor: Por uma questão de espaçamento, apenas referencio o autor e ano das fontes bibliográficas, dada a quantidade e extensão das mesmas.

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