Fui educado a conceder o passeio de cada rua ao Juiz que tinha a prerrogativa de mandar ou salvar da cadeia os homens e mulheres que por qualquer motivo eram objecto de julgamento. Ao tempo os juízes inspiravam temor e tremor, podiam não ser venerados, eram respeitados.
Os tempos mudaram, alguns convenceram de serem emanações de Luís XIV, outros atingiram o estatuto de vedetas televisivas, vários revelaram defeitos impensáveis, até públicas virtudes, vícios privados. O povo (essa grande abstracção) a princípio não tugia nem mugia, só bufava, a partia de estes elementos de um órgão de soberania fazerem greve, a reverência resvalou para críticas olhos nos olhos quando não desafiantes da pesporrência de sentenças aos olhos da opinião publica simplesmente aberrantes cujo expoente será juiz da comarca de Lisboa que mandou para casa com pena suspensa um facínora que torturou um menino de três anos ao qual fiz referência neste jornal digital.
Na semana passada o antigo presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, Luís Vaz das Neves, natural de Ifanes, concelho de Miranda do Douro, sobrinho do falecido Bispo de Cochim e da diocese de Bragança-Miranda, Dom Abílio Augusto Vaz das Neves. Homem de virtude o Bispo ajudou a família, se fosse vivo estaria desgostoso porque como se diz nas terras transmontanas o juiz ora arguido não o mamou de leite. Este juiz é autor de uma sentença desculpatória de um americano sequestrador de um avião e envolvido no assassinato de um empregado de uma estação de serviço que fugiu para a Guiné-Bissau e aí casou com uma portuguesa. O FBI tentou incriminá-lo, no entanto o juiz deixou-o em liberdade.
Este juiz apresentava-se como sendo um poço de virtudes, soube-se agora não ter comunicado à hierarquia a sua ligação a uma empresa de resolução de conflitos extra-judiciais, embora a condição de jubilado o não permita. O universo da justiça vive em crise permanente, antes e depois do 25 de Abril. No antecedente funcionavam os famigerados tribunais plenários, depois assistimos e suportamos o custo dos corporativismos dos magistrados. Ganham muitíssimo bem segundo o padrão português, usufruem mordomias reluzentes, são condutores da lentidão da justiça e, desculpem o jargão linguístico: estamos Tramados!
Armando Fernandes