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Vídeo – Mensagem da SPA do Dia Mundial do Teatro 2020

https://www.facebook.com/fernanda.lapa/videos/10219321470359862
Mensagem do Dia Mundial do Teatro da SPA lida pela actriz ribatejana Maria João Luís



É no Homem, nas suas urgentes e sangrentas ansiedades, que está a raiz da actual criação dramática.

Alguns dramaturgos realizam a descida aos infernos, testemunham o mundo tal como o vêem através das grades do seu cárcere de angústia e desespero, despem os homens dos adereços enfeitantes que a prática de normas sociais seculares lhes emprestou, denunciam o desnaturado das relações humanas mais aceites e, em gritos agónicos de linguagem atomizada uivam a sua incapacidade de reajuntarem o que o uso, a mentira, a injustiça e o desamor separaram cruelmente.

Porque se escolhe ser dramaturgo e não romancista ou poeta? Esta opção traz implícitas muitas consequências e uma delas é que o homem de teatro necessita do público de uma maneira carnal, pois o teatro é, em si mesmo, a expressão artística mais carnal de todas, uma expressão em que o verbo ou a sugestão ou a situação emocional elaborada pelo autor, tem de ser encarnada por um actor, que cada vez que a peça está no palco a diz ao vivo para um público vivo. E se há pessoa mais ansiosa desse sentimento de aproximação, de comunicabilidade com o público, de amor, na ideia mais lata do termo, é o dramaturgo, que não prescinde dessa fusão carnal que constituem os elementos do teatro.(palavras de Bernardo Santareno)

Neste ano em que se comemora o Centenário de um dos grandes Dramaturgos portugueses, que pagando muito caro, nos ofereceu as mais ricas e complexas personagens do nosso teatro e os temas mais fracturantes da nossa sociedade do século XX, seria, para mim, impensável não o tornar centro e símbolo da luta constante da gente de teatro por uma Cultura Para Todos, onde o Teatro se inscreva como Serviço Público.

Sensível que sou às questões que afetam as mulheres no seu dia a dia – quer no que diz respeito ao âmbito social e familiar, quer na igualdade de direitos laborais, não posso deixar de referir que o Teatro português, como muito do teatro que se faz lá fora, continua a sofrer de um deficit democrático.

As mulheres de teatro continuam em situação de subalternidade e isto apesar de nas Escolas Profissionais ou no Ensino Superior elas serem a maioria. O facto é: que há muito mais desemprego feminino no Teatro português, que a maior parte das Companhias existentes são dirigidas por homens, que as, poucas, que são dirigidas por mulheres, estão na cauda dos apoios estatais e que os apoios que recebem, além de escassos, se inscrevem, sobretudo, nos apoios Pontuais ou Bianuais.

O medo e a recusa do Outro/Desconhecido, o medo e a recusa de encarar a realidade que nos cerca, onde o preconceito, o racismo, a homofobia, a xenofobia, a guerra e a pobreza, teimam em se instalar, são temáticas a que o Teatro português não pode alhear-se, sob pena de se autodestruir, renegando assim o Teatro dos grandes Mestres, desde os Gregos a Shakespeare, desde Gil Vicente a Brecht ou a Caryl Churchill – em suma todos aqueles que nos continuam a emocionar e a fazer pensar.

Amar o Teatro e o Público não é um conceito abstracto. Amar não pode ser uma palavra sem conteúdo e, tal como a palavra Drama, contém o sentido de acção. Porque amo, eu actuo em favor de quem, ou daquilo que eu amo. Muitas vezes para defender esse amor é preciso lutar. E é por isso que nós, homens e mulheres de Teatro, homens e mulheres do Público temos o dever imperioso de continuar a lutar por um Teatro digno do nosso País e por uma classe teatral dignificada.

Aproveitemos este dia 27 de março de 2020, para proclamar que todo o ano terá de ser de Teatro. Exijamos um Plano de Desenvolvimento Teatral com futuro. Apostemos na força do Teatro para as transformações que os nossos tempos exigem.

E porque março é o mês das Mulheres procuremos a igualdade nesse Plano. E porque conhecemos as condições miseráveis em que muitos dos nossos reformados vivem considere-se nesse Plano um sistema de remunerações digno.

Viva o Teatro, os seus agentes e o seu público.

Fernanda Lapa

(Actriz, Encenadora e Directora da Escola de Mulheres – Oficina de Teatro)

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