“Continuamente vemos novidades,Diferentes em tudo da esperança;Do mal ficam as mágoas na lembrança,E do bem, se algum houve, as saudades”.
Como tão bem cantou José Mário Branco os sonetos de Camões… Ao ler a notícia da saída da farmácia da Póvoa da Isenta lembrei-me do Zé Mário e de Camões… As saudades…
Camões, pareces ter sido oráculo destes tempos agora ditos modernos! Não deves ter conhecido a Póvoa da Isenta, talvez algumas casas perto do rio Maior que no teu tempo corria limpo e saudável.
A freguesia é contemporânea, mas neste ano de 2020 é centenária. Pois Luís Vaz (…) o Zé Mário já conheceu a poluição do rio pelas suinicultoras, a insuficiência da agricultura familiar, o fim da linha de comboio que irmanava com o rio e a natureza e buscava a mina na cidade homónima das águas.
Tal como o rio, a Póvoa da Isenta viu desvanecer-se a Estação Zootécnica, perder 11% da população em 20 anos (…) e agora a farmácia Serranho pela sua transferência para a Portela das Padeiras.
Percebemos a razoabilidade invocada pelo seu proprietário Francisco Serranho. “A freguesia da Póvoa da Isenta tem apenas 800 ou 900 habitantes, pelo que não é rentável manter a farmácia que já funciona nesta aldeia há cerca de 30 anos”, afirmou o proprietário ao Mais Ribatejo prometendo continuar a apoiar a população.
Em tempo em que a mediatização dos títulos de imprensa prometem-se Centros de Excelência para a Agricultura e Agro-indústria cuja evolução deveria ser partilhada, cuja interação com uma agricultura ecológica e amiga do ambiente se desconhece, importava voltar a Luís Vaz e mergulhar nos Lusíadas…
Em vez de ler, pensar e conhecer, em vez de partilhar, construir e fazer do verbo ser um sujeito coletivo motivador, o executivo municipal persiste numa governança errante e centralizadora na cidade de Santarém. Essa centralização sobrecarrega a cidade e dissolve as outras freguesias.
Pois… Ricardo Gonçalves retornou ao seu tempo de vice de Moita Flores. Soube-se, foi positivo, o Município de Santarém concedeu um apoio financeiro de 12.000 euros à organização das comemorações do centenário da freguesia da Póvoa da Isenta. Um centenário é um centenário: parabéns Isenta!
Mas o que na governança é negativo é não saber o que quer que esta terra seja!
A governança municipal dirige sem plano de desenvolvimento concelhio, tanto assim que há anos se mostra incapaz de completar o Plano Diretor Municipal.
Sobre a Póvoa da Isenta parece recair esse peso do acaso, esse peso da ausência de futuro, esse peso da perda de força, da perda de população…
Esperemos que a Póvoa da Isenta não seja uma nova Vaqueiros!
“Mas se tudo o mundo é composto de mudança, Troquemo-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança”.
Vítor Franco