Quem haja assistido às mais recentes notícias sobre o regresso de Cristina Ferreira à TVI, com um elevado grau de certeza, ter-se-á rido com o tom assombroso e despropositado que foi conferido à milionária e inesperada transferência.
No entanto, ao contrário daqueles que, como este opinativo escrevente, reagiram com algum desprezo a um fenómeno revelador do embrutecimento da nossa comunidade, o timbre pasmoso concedido pelos media, afinal, é sobeja e tristemente justificado, ainda que por motivos diversos.
Como Rui Rio bem salientou, depois do choradinho dos principais órgãos de comunicação social por apoios financeiros do Estado – que foram distribuídos com inexistente transparência e rigor –, torna-se inequívoco que andámos a sustentar, de um canal de televisão para o outro, a fulva transumância da estrídula apresentadora.
Sinto-me burlado! Sinto que me tomam por uma criatura de duas bossas que frequenta desertos e blatera! Os dinheiros públicos não podem ser utilizados para alimentar guerras entre Balsemão e a Media Capital, nem servir de fedorento adubo para o germinar de telenovelas rascas, mas caras, acerca da moralidade ou imoralidade de pessoas e entidades que agiram com objectivos legítimos de enriquecimento. O erro está em não se ter estabelecido um caderno de encargos para a disponibilização das avultadas somas!
Contudo, este mau uso de quantias provenientes do erário público permite-me, figurativamente, apanhar um comboio da Metrópole para a nossa sui generis situação concelhia e para o triunfante anúncio de que a Câmara Municipal de Abrantes investirá 150 mil euros em dois campos de padel!
Tchanã! Padelemos, irmãos! Padelemos! Porque esta é a grande inovação do Partido Socialista que nos granjeará mil anos de prosperidade e o irromper de uma nova Era Dourada para o Município…
Perdoem-me a facécia, porém, não consigo evitar a abordagem jocosa a um autêntico disparate determinado pela mesma força partidária que, em tempos, definiu e concretizou um absurdo e infrutífero investimento num campo de baseball.
As perguntas impõem-se: quantos munícipes conhecem a modalidade? Quantos munícipes, atento o cenário demográfico altamente envelhecido, têm condições para a prática desse desporto? Quantos gozam de condições monetárias para fruir da infra-estrutura? Qual será o retorno económico e/ou social?
Como não acredito que alguém se desloque ao nosso Concelho para jogar padel, chego à conclusão de que estes 150 mil euros serão gastos para agradar a uns parcos selectos, ou seja, para contentar a frágil elite abrantina que vive às custas do poder instalado!
Com efeito, estamos perante um manifesto exemplo de desmesura e incompreensão da realidade do nosso território local; de um picaresco e intolerável novo-riquismo, dado que enfrentamos, enquanto sociedade, uma arrepiante pandemia cujas destruidoras consequências se perspectivam longas e persistentes.
Assim, remato o presente artigo com uma frase lida no Facebook:
“Quando as pessoas perderem o emprego, já sabem como ocupar o tempo.”
Padelemos, irmãos! Padelemos!
João Salvador Fernandes