Terça-feira, Abril 16, 2024
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Relato duma aldeia onde vivi

A minha aldeia – a que eu escolhi para viver!

Aldeia pequenina, dispersa, onde os vizinhos só se encontram se for da sua vontade.

Tem duas lojas – dois cafés – multifacetados – segundas casas, com televisão, dispensa/mercearia, frescos, secos e molhados, bilhas de gaz, café com e sem cheirinho, sabem das notícias, dão recados, e tudo e tudo.

Tem o sol pendurado por cima das cabeças mesmo que as pessoas não o vejam.

Tem rituais para além da visita pascal; o nascer do dia nos sons preguiçosos que custam a acordar. Uma motorizada …vrum… vrum, a carrinha do padeiro na volta dos saquinhos à porta, depois é o lá vai um por as crianças à escola. Um cão inquieto a dar alarme a tudo o que mexe.

Galinhas e porcos a reclamarem aos donos “o naco do dia nos dai hoje”…

O ronco dos madeireiros como se resmungassem por quem os obriga a esterilizar as terras… as viúvas palradoras dos homens das outras – os seus são “os que deus tem” ponto final.

Lá vai um tractor a buscar trabalho – que o rodado gigante pisará torrões que serão verdejantes mal a chuva caia.

Mais uma carrada de lenha a lembrar invernia aos fregueses.

Uma carrinha de caixa aberta com rebanho a caminho das vacinas .

Vá “toca a mondar a horta que ainda tá fresquinho nâ tarda o sol nã dêxa”.”Vá quisto é terra mole que se amanha cum pau”

Tão simples – tão previsíveis são os dias e as estações do ano.

Fora os fogos – que são tormenta, apoquentações, aflição,” ai jasus que se queima tudo!” Todos se juntam a defender o que é de cada um. Às vezes o “lume” ganha.

As festas são calendários, agendas anotadas com o soar de foguetório e sinos a chamar a roupa nova.

Sabe bem o pêndulo das horas até ao por do sol – tempo em que ninguém mais o conta. Dorme-se com o corpo a pedir cama – sem relógios senão a luz do dia a aparecer devagarinho.

Gosto de viver na minha aldeia com um rio que eu sei que corre para o Tejo. Todos os caminhos se intercomunicam…toda a gente sabe do seu destino. Desaguam uns nos outros…porque deles dependem.

Na minha aldeia toda a gente diz bom dia! E toda a gente tenta tê-lo!

O ar é limpo. Nem damos por respirar…e viver não tem data.

Manuela Marques

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