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Um hacker que desafia a Rússia, o Irão, a Coreia do Norte e ganha

Frederick Forsyth é um escritor inglês que começou a ganhar notoriedade quando escreveu em 1969 o seu primeiro romance, Chacal, a que se seguiram outros êxitos editoriais como O 4.º Protocolo e O Caso Odessa, está hoje na lista dos grandes nomes do thriller internacional. É um narrador singular, não tem qualquer equivalência com aqueles seus colegas que escrevem os acontecimentos em tropel, a um ritmo avassalador, com muitas explosões e em permanentes situações de risco. Ele é pão pão queijo queijo, e não esconde a ninguém que escreve histórias em que o Ocidente ganha sempre ou os mauzões de diferentes estilos são severamente punidos.

Veremos uma das figuras principais da trama do romance A Raposa, Bertrand Editora, 2019, é um ex-chefe do MI6, Adrian Weston, uma vida singela e discreta, mesmo que ligada a grandes sucessos nas Forças Especiais. O seu adversário principal é o temível Krilov, lá nas Rússias do novo czar. Tudo começa quando a Primeira-Ministra britânica o convoca com urgência, quer que ele esteja presente numa reunião com norte-americanos. Com simplicidade e acessibilidade, Forsyth vai desvelando o que foi o terrorismo no 11 de setembro de 2001 e como se procurou instituir o elevadíssimo grau de segurança no sistema informático. Até que se descobriu que alguém tivera acesso à base de dados da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, onde se encerram biliões de segredos vitais para a segurança deste país. Feita a investigação, foi descoberto o hacker que parecia morar numa bairro residencial de uma pequena cidade a norte de Londres, fez-se uma operação e a surpresa foi total, o hacker era um adolescente que se limitara a usar o seu génio para se imiscuir em segredos tidos como inexpugnáveis. Os norte-americanos pretendem a prisão do jovem, cabe a Adrian Weston sugerir que este prodígio informático e os seus familiares passem a viver recatadamente numa clandestinidade amável, altamente protegidos.

E é num local recatado que aquele jovem, Luke Jennings, começa a aterrorizar outras potências, ele é o dínamo da Operação Troia, infiltra-se em todos os sistemas informáticos dados como inacessíveis. E logo chega a turbulência. Os Russos estão orgulhosos do seu novo cruzador, o Almirante Nakhimov, uma plataforma móvel armada até aos dentes, o jovem consegue desviá-lo da rota, infiltrara-se no sistema informático, os senhores do Kremlin entraram em fúria. O homem que controlava as informações externas da Federação Russa pôs-se em campo, recebe do chefe supremo do Kremlin ordem de localizar a pessoa e eliminá-la.

Uma equipa parte para matar aquele que acabava de humilhar a Rússia ao imobilizar aquele navio que se pensava ser a arma mais temível ao cimo das águas. Os espiões descobrem o local onde vive o pirata informático, os assassinos profissionais vão no seu encalço, as forças especiais a cargo de Adrian Weston liquidam-nos, chamavam-se “os lobos da noite”. Adrian Weston desloca-se ao Liechtenstein, anda à procura de uma conta bancária, o enredo da espionagem adensa-se, descobre-se uma toupeira num departamento oficial britânico. Entretanto, muda-se de poiso para dar mais segurança ao pirata informático, nova tentativa de assassínio, novo desastre para os intentos dos Serviços Secretos russos. Insista-se acerca do processo literário de Forsyth, sempre com notas históricas que acabam por ser sugestivas e vêm intercaladas no contexto narrativo. Um simples exemplo, e ainda dentro da continuidade da Operação Troia: “A base de dados estrangeira estava situada sob os desertos da república teocrática do Irão, um país que empregava e propagava o terrorismo e queria produzir a sua própria bomba atómica. Havia um outro país, cujo destino era a aniquilação se essa bomba atómica alguma vez se tornasse viável: se Adrian levasse a sua avante e conseguisses persuadir a Primeira-Ministra, os códigos de acesso à base de dados iraniana seriam partilhados com o Estado de Israel”. Dentro do contexto didático que é timbre de Frederick Forsyth, narram-se os acontecimentos da tentativa da criação da bomba atómica iraniana, como os Serviços Secretos Israelitas prepararam uma operação de destruição, israelitas e britânicos montam uma cilada a um grupo de assassinos iranianos, em Moscovo Krilov pressente que anda por ali a mão do jovem pirata informático, não pode desistir, o senhor do Kremlin já o advertiu solenemente. Agora é a Coreia do Norte que entra no palco, de novo o autor dá informações históricas sobre a dinastia ditatorial que ali governa. Um general norte-coreano, conhecedor dos segredos das armas nucleares, foge para o Ocidente, revela segredos do programa dos mísseis, uma arma temível, o Hwasong-20 está a ser construído, é a maior ameaça à paz mundial, são fornecidos pelos Russos. Nova interferência no programa dos mísseis norte-coreanos, mais uma escalada de terror que foi sustida. Aqui e acolá Adrian Weston conversa com a Primeira-Ministra e trocam informações históricas com um certo valor para o leitor medianamente informado. Agora é preciso destruir os gasodutos que atravessam a Ucrânia, a Polónia, a Moldávia, a Roménia e a Bulgária, está em curso o programa denominado TurkStream, a Europa ficaria dependente do gás da Rússia, ficando sua serva, é essa a grande manobra do novo czar. E dão-se explicações: “A TurkStream consiste essencialmente em dois gasodutos. Ambos nascem no coração da Rússia e descem pela terra em Krasnodar, perto da costa do Mar Negro, na Rússia Ocidental. O Blue Stream continua por baixo do Mar Negro e ressurge na Turquia, dirigindo-se para Ancara. Este facto, juntamente com uma redução de preço, é o aliciante para a Turquia, e é por esse motivo que ela e a Rússia andam tão unidas ultimamente. O segundo gasoduto, o South Stream, que é muito maior, também segue por baixo do Mar Negro, mas ressurge na Turquia Ocidental, perto da fronteira com a Grécia. É aqui que uma ilha íntima será construída para receber as frotas de metaneiros que servirão a Europa Ocidental. Então, a dependência será completa”. Luke, uma vez mais, será bem-sucedido, destruindo todos a aparelhagem informática. O senhor do Kremlin fica siderado quando sabe do desastre para a Coreia do Norte e o seu programa de mísseis secreto e como a avaria do centro operativo do projeto TurkStream se tornara uma catástrofe. Dá a última oportunidade a Krilov para aniquilar o mais prodigioso hacker de todos os tempos. Dois agentes põem-se ao caminho, um atirador liquida-os. Krilov caiu definitivamente em desgraça.

Não há thriller que não tenha uma bonita história de amor, a mãe de Luke, que fora tão infeliz com o marido, anda em derriço com o capitão Williams, um dos bravos das Forças Especiais. Luke entretanto tem um acidente, foi tratado, descobriu-se que a sua genialidade se sumira. Assunto arrumado. Entretanto, na Coreia do Norte, o ditador Kim, depois de mais um insucesso de mísseis, descobriu que era impopular, os chineses removeram-no. Uma onda terrorista da pior espécie, capaz de pôr o mundo de patas para o ar, fora enfrentada por um hacker de 18 anos, o Ocidente podia respirar de alívio. A genialidade do pirata informático extinguira-se mas a verdade é que o mundo estava mais calmo. Resta dizer que ficamos à espera de um novo surto terrorista e até pode muito bem acontecer que o novo hacker seja uma rapariga…

Pura literatura de entretenimento num processo exímio de escrita.

Mário Beja Santos

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