A milenar visita de saudade aos parentes falecidos, no ano em curso, por norma governamental e subliminares decisões autárquicas, em virtude do risco da proliferação da pandemia, será interdita, mitigada, restringida e demais impedimentos correlativos um pouco ao sabor da corrente, sem esquecer a realidade punitiva derivada do «castigo» dos pecados do Mundo, por isso mesmo no seio dos fregueses das Igrejas o interdito seja particularmente sentido (pelo menos uma vez em cada ano) a recordar o preceito vivificador, festivo, da Páscoa da ressurreição.
Os povos primitivos veneravam os seus mortos erigindo-lhe monumentos a possibilitarem aos arqueólogos um melhor e maior conhecimento do culto dos mortos, como os ceramistas nos legaram grande número de representações acerca dos actos fúnebres em honra dos falecidos.
A alusão à Páscoa da ressurreição não me parece descabida, o reviver (voltar a viver) é a dupla esperança, a do morto que descanse em paz, a do que visita o parente o de se manter no reino dos vivos para o lembrar. Pelo meio surge o Banquete como hierofania do invisível e visível personificada no Ágape, a refeição especial, dos dias lembrados e a lembrar marcavam a existência dos povos, os romanos assinalavam o nascimento, a imposição do nome, o casamento e a morte. No aniversário da morte do defunto um banquete a recordar a participação do falecido nas suas vidas.
Os cemitérios sempre foram e são um ponto de referência no devir dos povos, os muitos milhares de cruzes nos cemitérios nacionais a homenagearem os caídos em defesa da Pátria são a prova provada do alcance simbólico e histórico dos cemitérios. A história de cada um é outra história que povoam as Bibliotecas tal como a senhora da Gadanha, infelizmente, tão activa nos dias correntes. Temos de resistir!
Armando Fernandes