A discriminação da Terceira Idade é hoje matéria de grande preocupação e por razões sérias. O envelhecimento é um fenómeno irreversível e dentro de poucas décadas os seniores serão um grupo maioritário.
Ao longo de milénios instalaram-se mitos e preconceitos sobre os seniores em diferentes civilizações, muitos deles estão em derrocada nesta civilização do consumo em que tudo é presente e urgente e o passado relegado para trás da cortina, julga-se que não serve para entender o presente e o futuro.
Os heróis eram jovens, os velhos tinham sabedoria, mas deixavam de ser unidades de trabalho, comiam, mas não produziam, eram um estorvo tolerável.
Com o aumento galopante da esperança de vida, quer a publicidade quer as indústrias de entretenimento tiveram que tratar o sénior com outro tipo de consideração, é impressionante a presença hoje do sénior nas séries televisivas, nos filmes, na comunicação publicitária. No entanto, estão longe de desvanecidos os preconceitos e a discriminação sobre os seniores.
Fala-se em idadismo, um termo que abarca as atitudes e práticas negativas generalizadas em relação à população sénior. Li um trabalho publicado em 2011 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, obra de uma investigadora universitária, Sibila Marques, exatamente intitulado “Discriminação da Terceira Idade”. Considera o idadismo um problema grave na sociedade portuguesa, avança com números, refere os desafios do envelhecimento demográfico e logo releva o que se passa com os seniores no mercado de trabalho.
Em nenhum aspeto da governação é hoje possível estar indiferente ao fenómeno. Primeiro, porque em termos educativos, a aprendizagem ao longo da vida não toca só a uma fatia da população, qualquer profissional está condenado se não existir uma formação permanente, é crucial ter os seniores preparados para trabalhar até mais tarde, mesmo que seja em horários ligeiros ou modalidades de voluntariado. Segundo, o envelhecimento progressivo obrigou a sérias alterações no mercado e da própria organização coletiva. As autarquias fomentam aulas de ginástica, apoiam as universidades sénior, as excursões, os ateliês de pintura, entre outras iniciativas. Cresceram os lares, o apoio domiciliário, os centros de dia, uma infinidade de organizações solidárias dá-lhes apoio, são um dos pilares essenciais aos cuidados a seniores.
Se hoje ainda se aspira a uma reforma aos 66 ou 67 anos, as novas gerações já possuem o entendimento de que não podem viver fora da formação contínua e de qualquer manifestação associativa. Terceiro, as políticas de saúde, de solidariedade e segurança social precisam imperiosamente de seniores cuidados, ocupados, com terapêuticas adequadas, caso não seja assim as políticas públicas entram em falência.
Esta crescente mentalidade de solidariedade intergeracional começa agora a dar os seus frutos, não há dúvidas que as pensões de reforma não terão no futuro os valores que têm hoje, surgiu a consciência da necessidade de prolongamento da vida ativa por mais anos. Portanto há consenso quanto ao princípio do envelhecimento bem-sucedido, a despeito da existência do idadismo onde se regista violência sobre o sénior, abusos, maus-tratos físicos, morais e psicológicos.
Os novos conceitos de cidadania também se encarregam de desanuviar preconceitos, com as despesas que dão os seniores ou da sua falta de utilidade. E até mesmo a estrutura familiar comprova que os seniores se ocupam dos netos, não passam só a tarde a jogar às cartas nos jardins, ajudam os outros, cresce o interesse pelo mundo digital, embora as estatísticas digam que esta população está horas a fio diante do televisor.
Que não se duvide ou minimize os dados conhecidos acerca da discriminação social das pessoas idosas, é cada vez mais importante atenuar o idadismo com políticas públicas adequadas. A solidariedade intergeracional também decorre dos novos paradigmas sociais, e a compenetração de que estamos cada vez mais interligados deve ser acompanhada de uma intervenção anti-idadismo, ele não desaparecerá por si, tem que ser desarmado através de uma sociedade mais inclusiva na qual os grupos de diferentes idades convivam de uma forma mais igualitária e menos preconceituosa. Só assim se desanuviará esta ameaça e os preconceitos que atingem os seniores.
Mário Beja Santos