Um presidente de câmara que se apresenta numa Assembleia Municipal, para discussão das Grandes Opções do Plano e Orçamento, precisa de saber responder a uma pergunta: qual a linha de rumo que se quer para o concelho?
Vejamos:
A linha de rumo é fundamental. Quando projetamos uma estrada precisamos de saber os objetivos dela, onde deve começar e onde acabar, que obstáculos existem pelo caminho, que obras de engenharia serão precisas, que recursos se poderão alocar, que sinergias ou interesses comuns se poderão estabelecer?
Por exemplo: a câmara de Rio Maior, que nem é do meu partido, traçou um rumo estratégico: o desporto e as suas envolvências. Na minha opinião isso foi um caso de sucesso!
Qual o rumo estratégico de Santarém? Alguém sabe?
Não se trata de concordar ou discordar com obras que há vinte anos já deviam estar feitas como os pavilhões desportivos de Pernes e Alcanede, ou há 30 anos como a melhoria de várias praças da cidade. Para onde se quer ir na política camarária? Alguém sabe?
Em tempos, Santarém apostou na candidatura a Património Mundial; certo ou errado era um rumo! Moita Flores, com Ricardo Gonçalves a vice-presidente, apostou na mensagem da “cidade-festa”, da cidade falada no país e na promessa de obras faraónicas; deu outro rumo: uma dívida faraónica! Mas cada pessoa fará a sua avaliação.
Como todas as câmaras, tenta-se usar os fundos comunitários – mas isso é uma ferramenta fundamental para atingir o objetivo e não o objetivo em si.
No concelho de Santarém, é cada vez é mais evidente que a captação da agropecuária intensiva é o rumo. Empresas cada vez maiores que destroem as pequenas empresas, geram maiores problemas de poluição, em sectores como suiniculturas, aviários, vacarias, olival intensivo…
A viabilização dessa atividade faz-se também com declarações de interesse público para legalização de explorações que violaram Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional, zonas de proteção alargada de captação de águas subterrâneas destinadas a abastecimento público ou Plano Diretor Municipal. Essa é uma das razões pelas quais o nosso PDM está há 18 anos para finalizar a revisão!
Não é positivo orientar o concelho de Santarém para um rumo prenhe de atentados ambientais, destruição da biodiversidade, química intensiva, danos na saúde pública, riscos de proteção civil, emprego residual, [clique nos links] invasão de pragas que necessitam de combate urgente, justa indignação como na Póvoa da Isenta, castigo às populações do Alviela e de Pernes, lançamento de esgotos diretamente no rio como em Alfange, carcaças de animais em caminhos públicos de S. Vicente do Paul…
O rumo negativo tem tido, na vereação, uma oposição fraquinha. É preciso uma oposição forte a quem escolhe uma “estrada acidentada”.
A Câmara de Santarém precisa de uma estrada e um rumo positivo, baseado na biodiversidade, na agricultura biológica e criadora de bem-estar e saúde, no desenvolvimento sustentável gerador de emprego!
A Assembleia Municipal de ontem merece ser vista por toda a população de Santarém. Fica-se a saber como a política autárquica é tão importante para as pessoas da nossa terra! Se assim o entender assista aqui.
Para a semana abordarei a relação entre a cidade e o Tejo.
Vítor Franco
Deputado municipal pelo Bloco de Esquerda