Um dia houve um desses bailes no palácio da Torre de Punhete (designação de então da Vila de Constância). Certa dama trocista, de grossos lábios, como Camões a não cortejasse, declamou para espanto dos convivas:
“Adeus meus olhos
Para te dizer meus olhos
Não tendes senão um
Para te dizer meu olho
Julgarão que é o do….”
Camões não se ficou e logo disparou:
“Tenho visto damas formosas
Padecerem de hemorróidas
de hemorróidas no …
Mas de hemorróidas na boca
Só as padeces tu”
Dou-vos este presente apócrifo que ouvi da minha saudosa prima D. Maria José Bretes a qual por sua vez o tinha ouvido contar à velhinha Mónica Bretes sua antepassada.
O sentido falsamente bocagiano dos versos, é evidente. A expressão tomei-a de empréstimo da obra “Casa de Camões em Constância”, de Maria Clara Pereira da Costa, 1977, onde se omitem os versos, por pudor? Que seja! Ouvi a história de fonte autónoma ao livro, nos anos 80.
Quanto à imagem trata-se de um pormenor duma gravura de Leith Hay do primeiro quartel do século XIX, que foi reproduzida numa revista antiga “Iconografia ribatejana”.
Há duas tradições na vila sobre Camões, sendo que uma delas o coloca no palácio da Torre dos Validos de Dom Sebastião. O Dr Adriano Burguete fez esta recolha na primeira metade do século XX. Na literatura há indícios da possível presença de Camões em Punhete, seja na própria poesia lírica, seja na personagem Urbano da obra “Lusitânia Transformada” de Fernão Álvares do Oriente, publicada no início do século XVII.
Leitão de Andrada conta-nos que naquele tempo o Tejo era manso em Punhete e que o Zêzere o cortava com grande ímpeto e represava as águas do Tejo, fazendo-as recuar, sendo causa de frequentes inundações da baixa da povoação. Fenómeno que ainda hoje acontece embora diferentemente como sabemos devido aos assoreamentos e às barragens.
A torre de Punhete onde se reputa esteve Camões, chegou a estar separada do Castelo templário e haveria uma ponte a liga-los a crer nas informações que se atribuem aos livros da guerra de D. Miguel Pais.. É muito provável que o cenário duma torre rodeada de água existisse de facto no tempo do degredo de Camões. Mas o poeta é que saberá: “ERGASTO
Agora, já que o Tejo nos rodeia,
neste penedo, donde mansamente
murmurando se quebra a branda veia(…)”
José Luz
(Constância)
PS- não uso o dito AOLP