A Assembleia da República aprovou esta quinta-feira, dia 18 de fevereiro, uma recomendação ao Governo para que atribua ao Hospital Distrital de Santarém o nome de Hospital Bernardo Santareno.
O Projecto de Resolução n.º775/XIV/2.ª foi proposto pelo Grupo Parlamentar do PCP, tendo como primeiro subscritor o deputado eleito pelo distrito de Santarém, António Filipe.
A Recomendação contou com os votos a favor dos deputados do PS -. Partido Socialista, PCP – Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda, PEV – Partido Ecologista Os Verdes, IL – Iniciativa Liberal, e das deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues. Votaram contra a proposta os 79 deputados do PSD. Os deputados do CDS-PP, do PAN e do Chega abstiveram-se.

Os autores da proposta recordam que “recentemente, na cidade de Santarém, no lançamento de uma biografia da sua autoria com o título Bernardo Santareno –da Nascente até ao Mar, o Doutor José Miguel Noras sugeriu publicamente a atribuição do nome de Bernardo Santareno ao Hospital Distrital de Santarém“.
O PCP considera que “essa proposta tem toda a pertinência e oportunidade e nesse sentido, nos Deputados do Grupo Parlamentar do PCP propõem que a Assembleia da República adote a resolução n.º775/XIV/2.ª”.
O documento recorda que “a Assembleia da República aprovou recentemente por unanimidade, sob proposta de Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República, um voto que assinalou o centenário do nascimento de Bernardo Santareno. Desse voto consta o seguinte:
«Nascido em Santarém, a 19 de novembro de 1920, Bernardo Santareno –pseudónimo do psiquiatra António Martinho do Rosário –foi um dos mais relevantes dramaturgos portugueses do século XX, afirmando-se pela vasta obra literária, essencialmente no domínio do teatro, mas onde pontua a prosa e a poesia.
O seu primeiro livro de poesia, Morte na Raiz, é publicado em 1954, com ele nascendo o pseudónimo Bernardo Santareno, em homenagem à sua cidade de Santarém e ao santo padroeiro do lugar de Espinheiro, onde nasceram pai e avós e onde passou férias na infância e adolescência. É como Bernardo Santareno que passa a ser conhecido no universo cultural português e internacional.
Seguem-se Romances do Mar, em 1955, e, em 1957, Os Olhos da Víbora. É desse ano o livro Teatro, com as peças A Promessa, O Bailarino e A Excomungada – obra que o encenador e crítico António Pedro anuncia no Diário de Notícias digna de qualquer país moderno do mundo, profetizando que «(…) o maior dramaturgo de todos os tempos é um jovem médico embarcado na frota bacalhoeira portuguesa que usa o pseudónimo de Bernardo Santareno».
Levando à cena A Promessa no Teatro Experimental do Porto, pela mão do seu diretor, António Pedro, logo a censura a retira de palco, sob pressão dos setores mais conservadores da igreja católica. Inicia o percurso de dramaturgo sob o signo de forte polémica, tendo Bernardo Santareno sido perseguido pelos seus valores e ideias e o seu teatro alvo da censura.
Nas duras viagens à pesca do bacalhau pelos mares da Terra Nova e da Gronelândia, em 1957 e 1958, embarcado como médico, escreve a peça O Lugre e o livro de viagens Nos Mares do Fim do Mundo, profundamente humanista. É Bernardo Santareno quem introduz na sociedade portuguesa uma nova forma de ver e de sentir o duro sofrimento dos pescadores, por contraponto à propaganda do regime.
No período que medeia entre 1957 e 1980, escreve dezasseis peças, que perseguem a luta pela liberdade e a dignidade do ser humano contra todas as formas de opressão –causas do intelectual de esquerda que sempre foi tendo aderido à Juventude Comunista em 1941, data a partir da qual milita no Partido Comunista Português. A última peça, O Punho, de 1980, só foi publicada postumamente, em 1987.
Personalidade de profunda cultura, acompanha a obra de Federico Garcia Lorca, contactando com o existencialismo de Sartre, com Ionesco, ou com Jean Genet, de quem foi tradutor e cujo teatro representou pela primeira vez em Portugal
.A importância da obra de Bernardo Santareno – desaparecido em 29 de agosto de 1980, e de cujo nascimento se celebra, em 2020, o centenário –reside na centralidade que deu aos direitos e às liberdades individuais por oposição aos preconceitos morais e sociais de um Portugal atrasado e isolado do resto do mundo, abordando temas originais e não consensuais para a época, como o papel da mulher na sociedade, nas instituições e no casamento.»
A resolução salienta ainda que “no ano de 2020 tiveram lugar diversas iniciativas destinadas a assinalar o centenário do nascimento de Bernardo Santareno, a que a Assembleia da República conferiu o seu patrocínio”.
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