No passado dia 18 de fevereiro foi aprovada na Assembleia da República, por larga maioria uma proposta do PCP para que fosse atribuído ao Hospital Distrital de Santarém o nome de Bernardo Santareno. Independentemente de se poder, ou não, concordar com o nome indicado, passam por mim algumas pequenas perplexidades e questões que passo a referir:
- Quem mandatou o PCP, para falar em nome dos escalabitanos? Por acaso o tema teve discussão pública que indiciasse que esse seria o nome mais indicado para o efeito?
- Foram colocadas algumas alternativas? Sabe-se de algumas opiniões (especialmente profissionais de saúde) que já teriam sugerido nomes que, segundo eles, teriam muito mais identidade com o HDS e de merecimento indiscutível, em virtude da sua ação para a criação e início de atividade do hospital.
- Foram consultados alguns órgãos representativos dos profissionais de saúde, de utentes, ou a Liga dos Amigos do HDS, ou outros relacionados?
- O órgão máximo de representação democrática dos munícipes, Assembleia Municipal, pronunciou-se sobre o assunto?
- Bernardo Santareno teve alguma relação com a saúde, em Santarém? Nada de relevante! Bernardo Santareno não era médico, era dramaturgo. Médico era António Martinho do Rosário que assinava como tal quando exercia a medicina, o que fez numa dimensão importante, especialmente nos barcos de pesca do bacalhau, mas bem mais reduzida do que como o escritor Bernardo Santareno.
Democracia Participativa ou chico-espertismo provinciano e oportunista?
É interessante como um partido com um passado exemplar de luta pela democracia e sempre na linha da frente no apoio à descentralização, vem propor na Assembleia da República a atribuição do nome para um hospital de província, ultrapassando todos os órgãos democraticamente eleitos locais e a opinião dos locais.
Claro que isso não deverá ter relação com o facto de Bernardo Santareno ser militante comunista e um anti fascista convicto, o que só o eleva e distingue. Claro que o PCP ter mais um dos seus a dar o nome ao mais importante equipamento público de Santarém, nunca terá sido o móbil desta sua ação. Para os deputados do PCP, essa decisão ser tomada em Lisboa sem os escalabitanos serem sequer informados, não tem nada a ver com o centralismo que tanto criticam e repudiam.
É de enaltecer, também, o empenho e o trabalho que os deputados da Nação, especialmente aqueles que pouco ou nada conhecem de Santarém e de Bernardo Santareno, deveriam ter tido para votarem em consciência este importante desafio que lhes foi imposto. Calculo as centenas de pesquisas no Google e na Wikipédia e as discussões internas em cada partido para chegarem ao sentido de voto…
Temo que, se a moda pega, outros hospitais e até centros de saúde, vão começar a ter os nomes aprovados na Assembleia da República. Aí os senhores deputados vão ter muito que dar ao dedo e puxar pela cabeça. Lá virá mais uma comissão parlamentar e mais horas extraordinárias…
Já agora, o PSD podia propor na AR um nome para o Centro de Saúde do Planalto que, por exemplo, poderia passar a chamar-se Centro de Saúde Ricardo Gonçalves. Digo eu…
Manuel Rezinga