É, este ano as amêndoas pascais simbolicamente são amargas, tal como é o caso da espécie amarga usada parcimoniosamente (por ser tóxica) no domínio da pastelaria.
Os Romanos designavam por «noz grega» as amêndoas muito utilizadas na confecção de bolos e no acompanhamento de peixes, frangos e pombos, receitas essas transmitidas de geração em geração até aos nossos dias e alvo de numerosas aculturações ao longo dos séculos.
As aveludadas amêndoas estão bem presentes na nossa História, se o leitor analisar um dicionário geográfico depara-se com centenas de topónimos cuja raiz é a amêndoa, ora alvo de cultura intensiva beneficiada pelas águas e ambiente do grande lago alentejano, o Alqueva.
Em todas as áreas do conhecimento, da literatura oral (lendas e narrativas), da poesia rústica à dos salões literários, na pintura, na escultura, este fruto ovóide deu origem e dá inspiração aos criadores da ciência, da cosmética, da moda, das artes culinárias de cunho popular ou sofisticado.
Um antigo ministro pós 25 se Abril por vezes abusava da amarga e a bebida devolvia-lhe ataques de mau génio, esgares rabugentos, cabeça pesada no dia imediato ao extravasar dos cálices e língua a saber a papel de música. Pois bem, a Páscoa do ano a correr aos solavancos e ziguezagues da vacinação, do fica aqui quietinho, põe a máscara impedindo bafos de onça ou tentadores de ir mais além, não temos autorização nem vontade para festejarmos a efeméride porque os entes queridos não têm condições para nos abraçarem, nem para trocarmos presentes e demais efusões. Se me é permitido esconjurar a pandemia, faço-o não sem antes pensar no corte de mangas de que Bordalo Pinheiro imortalizou. Um poderoso Toma para a mortífera peste!
Armando Fernandes