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Comeres & beberes – Folar

Falar em folares é falar de bolas de carnes porcinas, fumadas canonicamente, impregnadas de ovos bem batidos e, fundamentalmente, de farinha do beijinho, cozidos no forno previamente aquecido, utilizando-se lenha consistente e muito bem seca. A construção dos folares requeria braços fortes femininos, braços masculinos no escolher e carrear a lenha para o forno bem temperado qual cravo musical, restantes apetrechos e utensílios adequados ao objectivo (folares suevas, amarelos, untuosos, repletos de pitanças), ainda as orações a encomendá-los aos Santos protectores da dona da casa, acrescidos dos anjos-da-guarda da restante parentela.

O leitor faça o favor de ter em conta o óbvio, folares assim só se encontram em localidades esconsas, perdidas nos montes e vales nos quais medram ervas medicinais também empregues na massa do folar no intuito (algumas vezes) de lhe conceder gosto refinado ao lado dos bocadinhos de toucinho, das tiras de presunto, das rodelas de salpicão e de chouriça de carne, os enchidos ganham sabor se acolitados por tais ervas.

O progresso científico e tecnológico além da pressa que nos azucrina os ouvidos e os movimentos levou ao aperfeiçoamento da produção dita artesanal de alimentos que outrora levavam muitas horas a serem cozinhados caso do folar. Os milhentos bolos, folares, folarecos e bolas de carne só são artesanais porque acreditamos em fadas e duendes. Para comprovar a minha asserção andei em Trás-os-Montes à cata dessas preciosidades, só as consegui apreciar em casas onde a tradição não é uma palavra vã, porque mesmo nas recônditas aldeias os reluzentes apetrechos de encurtamento das tarefas luzem e reluzem nas cozinhas cada vez menos ocupadas em virtude da acentuada quebra demográfica.

Se o leitor tiver a possibilidade de afagar o palato com folares contendo carnes de boa estirpe, faça favor de aproveitar. O confinamento impede incursões até aos santuários nos quais os queixos podem correr atrás dos sucessores dos folares do beijinho da farinha. Aguardemos a Páscoa de 2022. E, já estamos com sorte!

Armando Fernandes

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