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Linha do Norte: O desvio pelo Tejo é a melhor solução e a única ainda possível

Até há bem pouco tempo, parecia ser indiscutível que a variante da via-férrea a ser implementada em Santarém e que tão necessária é à cidade e à região, teria que cumprir um traçado já estudado em 2008 o que, por não existir alternativa, parecia ter o consenso e o apoio de toda a sociedade política e civil. Era, de facto a obra que se impunha e que iria resolver todos os problemas e inconvenientes originados do atual traçado da linha e podia alanvancar a construção de alguns equipamentos em falta na região, como por exemplo uma plataforma logística para servir a atividade económica e empresarial. Só que, entretanto, as coisas mudaram e muito.

Em Outubro de 2020, escrevi um artigo publicado no jornal online Mais Ribatejo (https://maisribatejo.pt/2020/11/01/e-se-o-desvio-da-linha-do-norte-fosse-pelo-tejo/), em que colocava como hipótese a ser estudada, a construção de um desvio da linha pelo Tejo, o que poderia ser a alternativa possível à variante por poente, entretanto inviabilizada pelas opções do governo para a ferrovia nacional.

Variante nascente

Demonstrada a viabilidade técnica desta opção

Ainda que com uma pouco consistente convicção da sua exequibilidade, mas com as dúvidas que devem sempre acompanhar uma ideia inovadora e, apesar de, à partida, ter sido considerada abstrusa por alguns, desafiei um engenheiro civil amigo, com créditos firmados e reconhecidos e com formação nas áreas das Estruturas, da Hidráulica e dos Recursos Hídricos, a analisar essa possibilidade e aquilatar da viabilidade dessa hipótese. Empresa a que se disponibilizou com grande interesse e empenho, não fosse o Eng. Valdemar Benavente, nado e criado em Santarém e conhecedor de muitas das suas idiossincrasias, necessidades e constrangimentos. O seu empenhado labor e a sua competência, deram origem a um documento/estudo que foi, no passado dia 22 de Março, apresentado publicamente por iniciativa da Associação Mais Santarém-Intervenção Cívica. Este documento, bem fundamentado tecnicamente, demonstrou a viabilidade dessa solução. (A descrição do evento está bem expressa na reportagem publicada: https://maisribatejo.pt/2021/03/23/todos-pela-variante-da-linha-do-norte-em-santarem-e-se-o-desvio-fosse-pelo-tejo/)

Face à insistência de alguns na defesa do desvio por poente, mesmo já conhecendo a outra alternativa, propus-me agora questionar a bondade dessa solução e demonstrar que a alternativa nascente, além de ser uma possibilidade técnica, tem todas as vantagens em relação à primeira.

Variante poente

Vejamos, então, quais os impactos negativos da solução poente e que não se aplicam à nova proposta:

  1. Provoca o efeito de barreira que impede os movimentos naturais dos animais e de pessoas
  2. Implica a ocupação da via em 96 ha de REN e RAN (56 de culturas anuais, 11 de olival e 6 de montado)
  3. Produz impactes vibráticos negativos em várias zonas habitacionais ( ex.: Fontaínhas, Casais do Reimão e Portela das Padeiras)
  4. Implica um forte impacto na geologia/morfologia dos terrenos, exigindo uma grande movimentação de terras (Escavação: 1.660.000 m3; Aterro: 1.080.000 m3).
  5. Durante a exploração do projecto prevê-se que o principal efeito negativo, a nível da qualidade do ar, seja a emissão de poluentes atmosféricas gerados pela circulação ferroviária por unidades a diesel.
  6. O impacto do ruido é muito forte e tem maior expressão nos aglomerados populacionais de grande dimensão, nomeadamente no Vale de Santarém e Portela das Padeiras e nos aglomerados populacionais de média dimensão, nomeadamente nas Fontaínhas, Vale de Figueira, Murtinhais e Casais do Reimão.
  7. O impacto social é enorme, pois obriga à demolição de 33 habitações (isto em 2008, atualmente esse número seria maior devido à abertura do espaço canal, feita a alguns anos atrás), para além de provocar a divisão de muitas propriedades rurais e das freguesias atravessadas. 

Para além destas inconveniências, retiradas do Estudo de Impacto Ambiental elaborado em 2008, há outras mais importantes ainda, como sejam o comprimento do novo troço (26,5 km, contra 2,3 km do alternativo), que aumenta em cerca de 5 km a distância entre Lisboa e Entroncamento e que originaria meses de obras com as respetivas consequências ambientais e constrangimentos de toda a ordem para as populações (como também consta no Estudo de 2008).

 Outra diferença abissal entre as duas propostas (poente vs nascente), são os custos previstos para uma e para outra. Apoiar uma solução que, para além dos enormes e irreversíveis impactos, tem um custo dez vezes superior a uma alternativa viável tecnicamente e igualmente estruturante, é esbanjar recursos e impedir que esse diferencial de investimento possa ser utilizado noutras causas igualmente importantes. No Concelho ou em qualquer outra parte do País.

Para se visualizarem melhor as diferenças entre as duas opções, segue um quadro comparativo:

São enormes os benefícios para a região e para a Ribeira de Santarém

Quais os benefícios que um desvio da linha do Norte por nascente traria à cidade, ao concelho e à zona ribeirinha:

  • O afastamento da via-férrea das encostas mais instáveis, que se traduz num considerável aumento da segurança do traçado, evitando-se as recorrentes interrupções de tráfego, perante situações de instabilidade mais gravosas;
  • A eliminação da passagem de comboios no interior da zona urbana da Ribeira de Santarém, uma enorme vantagem para o bem-estar da população local;
  • A requalificação urbanística e social da Ribeira de Santarém, promovendo a sua integração na cidade e a devolução do rio à fruição das pessoas com o evidente potencial de investimento turístico;
  • A melhoria do traçado com a inevitável consequência do aumento da velocidade média da via;
  • Construção de uma Nova Estação Ferroviária, a localizar, ou antes de Alfange ou a norte da estação atual;

Estes benefícios não são substancialmente diferentes dos apontados à solução poente, porém poderá alguém colocar dúvidas sobre a acessibilidade das pessoas ao rio, em face à aparente barreira que o troço parece colocar à área urbana da Ribeira. Ora isso é totalmente desmentido por técnicos (arquitetos e engenheiros) que veem nesta solução uma oportunidade de utilização do rio em todas as suas vertentes, tanto de lazer como desportiva sem qualquer tipo de constrangimentos de mobilidade.

Mudar a agulha e tentar o ainda possível

É preciso manter e intensificar a reivindicação pública do desvio da linha do norte, unindo políticos, autarcas e sociedade civil, agora no sentido de apostar na nova proposta de desvio por um viaduto a nascente, solução ainda capaz de dar luz aos anseios e necessidades dos escalabitanos, como ficou claro nas razões atrás expostas.

Trocar esta luta pela variante, por uma prometida modernização e abolição de algumas passagens de nível, é capitular na batalha pelo objetivo principal e é ser cúmplice na manutenção do status quo por mais um número indeterminado de décadas.

A oportunidade é única e só políticos e autarcas sem visão, poderão desdenhá-la.                      

Armando Leal Rosa

(Eng. Técnico e Empresário aposentado)

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