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Museu de Abril e dos Valores Universais entre a esperança e a frustração

A Câmara de Santarém deverá lançar, entre abril e maio, o concurso de concepção do Museu de Abril e dos Valores Universais, mas dificilmente a obra ficará concluída a tempo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em 2024.

“O MAVU – Museu de Abril e dos Valores Universais e a museologia em Santarém” foi o tema do debate online promovido esta quinta-feira, pela Associação Mais Santarém – Intervenção Cívica. O encontro contou com as presenças de especialistas e membros das comissões e grupos de trabalho que têm dado corpo à ideia de criar na Escola Prática de Cavalaria em Santarém um Museu de Abril e dos Valores Universais.

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O coronel Correia Bernardo contou as várias tentativas, desde o tempo do presidente Ladislau Botas, ainda nos anos 80, para se criar um Museu dedicado ao 25 de Abril, em Santarém. “Ainda existia a Escola Prática de cavalaria e o Salgueiro Maia estava a criar um Museu dentro da Escola Prática de Cavalaria (que seria levado com a transferência da EPC para Abrantes), pelo que a ideia ficou por ali”, afirma o militar de Abril, recordando posteriores tentativas nos anos 90 e posteriormente já com a saída da EPC, sob a presidência de Moita Flores.

Coronel Correia Bernardo

“Em 2015, o atual presidente Ricardo Gonçalves convidou-me para integrar a à comissão executiva e em 2016 reunimos uma equipa de 12 a 16 pessoas que iniciou todo o processo e elaborou o programa do MAVU”, afirma o coronel Correia Bernardo. “O objetivo apresentado pelo presidente da Câmara era inaugurar o Museu em 2024, nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, pretendendo realizar em Santarém as comemorações nacionais”. Foi convidado o Arquiteto Siza Vieira que esteve em Santarém em dezembro, visitou o espaço da EPC e ficou de apresentar um projeto. Em 2017, a comissão alargada apresentou o programa do MAVU para o espaço entre as duas paradas da antiga EPC, com um auditório, uma área para cafetaria, bar, restaurante e serviços de apoio. O atual espaço de estacionamento nas duas paradas deixariam de ser exclusivamente para esse efeito e passaraiam a ser espaçoas ajardinados. Entretanto, a NERSANT já ocupava uma parte do edifício da entrada da EPC e em finais de 2017 e início de 2018 passou a ocupar também a ala direita e a porta de armas, onde se previa ser a entrada do Museu.

“Sentimos algum embaraço por não termos da parte da Câmara resposta às questões que colocãmos, sendo que qualquer coisa que a a Câmara fizesse ou decidisse para aquele espaço iria colidir com o Museu e afetaria todo o nosso trabalho”, afirma o coronel Correia Bernardo, recordando que foi solicitado à Câmara que houvesse uma ligação através de um vereador e de técnicos com o grupo de trabalho.

A Porta de armas da EPC vai ter de servir de entrada para o Museu, mas o espaço está ocupado atualmente pela Nersant

Com a intenção de apresentar uma candidatura aos fundos comunitários, o presidente da Câmara definiu como objetivo a apresentação do projeto em finais de 2018. Nesse sentido, a comissão elaborou um cronograma com todos os passos necessários, entre 2019 e 2024, até à inauguração do Museu, desde a abertura do concurso à inventariação das peças, trabalhos de arqueologia, projetos, concursos, obras, etc. O cronograma foi entregue em setembro de 2018 e, segundo o coronel Correia Bernardo, ainda em dezembro de 2018, a comissão entregou o guião do Museu, com o projeto global e definição dos espaços funcionais. “Terminada a nossa missão, em fevereiro de 2019, entregámos toda a documentação e demos como terminada a comissão”, afirma Correia Bernardo. Posteriormente, realizou-se uma comissão com a Comissão do Património Cultural e com a Ordem dos Arquitetos que ficou o encargo de elaborar o programa base para o lançamento do concurso de conceção do projeto. “E já este ano, participámos numa reunião com o presidente da Câmara, que deu conta da intenção de aprovar ainda em abril ou maio o lançamento do concurso para a execução do projeto do MAVU”, disse Correia Bernardo.

“Nesta reunião vi que o programa apresentado pela Câmara à Ordem dos Arquitetos é aquele que a comissão elaborou”, conclui o Militar de Abril.

Arq.º José Augusto Rodrigues

O facto de Luís Mata e Carlos Amado terem dado continuidade ao trabalho realizado pela comissão constitui uma garantia de que o programa poderia ser cumprido, considera o Arq. José Augusto Rodrigues. “Santarém merece este Museu e nenhuma outra cidade tem as mesmas condições que Santarém para a concretização deste Museu”, afirmou o arquiteto que também integrou a comissão executiva que iniciou todo o processo do MAVU. “O Museu deve ser na EPC e o acesso tem de ser pela Porta de armas, não pode ser por nenhum outro lado”, defende José Augusto Rodrigues. “O problema é que a Porta de Armas passou a integrar o espaço concessionado à NERSANT que ocupa agora as duas alas do edifício de entrada da EPC pelo que fica em dúvida por onde se irá dar entrada às 300 mil pessoas que irão visitar o Museu ao longo do ano”, afirma. O Arq. José Augusto Rodrigues defende a necessidade da Câmara definir um plano global de gestão e ocupação do complexo da ex-EPC, sem o qual não será possível implantar ali o Museu. Do mesmo modo, entende que o Largo infante Santo terá de ser equacionado como o espaço de receção dos visitantes do Museu.

Luís Mata, historiador e técnico da Câmara, recordou que a ideia do Museu foi um processo iniciado pelo movimento cívico que depois a Câmara abraçou. Salienta que o Museu não é apenas dedicado ao 25 de Abril, mas aos conceitos fundamentais da nossa democracia que hoje damos como adquiridos todos os dias. Por isso, será um museu de âmbito nacional e até universal. Este técnico da Câmara afirma que o programa que faz parte da proposta que serve de base ao concurso prevê a construção de uma galeria de ligação entre o edifício de entrada da EPC e o Museu a construir no lugar atualmente ocupado pelo bloco de edifícios que separa as duas paradas. O plano de conceção vai enquadrar as áreas envolventes do Largo Infante Santo, Jardim da República e a Rotunda dos Rotários, devendo o acesso ser feito pela Porta de Armas. “O concurso desafia os concorrentes a conceberem soluções para as questões levantadas”, afirma Luís Mata.

O historiador Jorge Custódio considera que “a criação do MAVU é uma excelente ideia, atendendo ao lugar que Santarém ocupa nos principais movimentos revolucionários, desde a independência de Portugal em 1640 às guerras liberais do século XIX, até ao 25 de Abril”. Defende um processo classficiativo da ex-EPC, manifestando a sua preocupação pela ocupação anárquica dos espaços na EPC.

Nuno Domingos

“Duvido muito que o Museu esteja pronto em 2014 nos 50 anos do 25 de Abril, mas já fico contente se estiver em construção, afirmou Nuno Domingos, técnico da Câmara que também integrou a comissão do MAVU, e que deu conta dos “avanços e recuos constantes neste processo que considera kafkiano, frustrante e depressivo”.

Salomé Rafael, ex-presidente do Nersant

Salomé Rafael, ex-presidente da NERSANT, recorda que foi no seu mandato que a Associação empresarial ocupou as duas alas da entrada da EPC, onde estão instaladas atualmente 70 empresas na Startup Santarém. “Terá de haver negociação para se fazer o acesso pela Portta de armas, mas com boa vontade todos chegaremos a bom porto”.

Museu de Santarém está fechado há perto de uma década, decorrendo ainda s obras de recuperação da Igreja de S. João do Alporão

Santarém não tem museu municipal

O debate estendeu-se ainda à questão dos museus em Santarém, com o Prof. Jorge Custódio, especialista em museologia, a registar que o Museu Municipal de Santarém foi criado no ano de 1889.

Já nos anos 90 do século XX, com a Candidatura de Santarém a Património Mundial, foi concebido um plano museológico para Santarém, que integrava os núcleos de arte e arqueologia, o núcleo museológico do Tempo na Torre das Cabaças e a casa-museu Braamcamp Freire, segundo um plano concebido pela equipa liderada por Jorge Custódio. Foi remodelado o Museu Arqueógico na igreja de S. João do Alporão, mas entretanto, a degradação do monumento obrigou ao seu encerramento, desde há quase uma década. Ainda nos anos 90, foi esboçado um projeto para um Museu Agrário, com a colaboração do Cnema, mas a ideia acabou por ser depois abandonada.

O historiador Jorge Custódio

Atualmente temos o Museu Diocesano, mas não no mesmo âmbito, afirma Jorge Custódio, concluindo que “não há atualmente Museu Municipal em Santarém, pelo que é necessário pensar que museu é que Santarém precisa para o futuro, pois não se deve perder a herança que Santarém recebeu”.

 

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