O termo ladradeira significava e talvez ainda signifique pessoa alarve na linguagem, invejosa de tudo e de todos, especialmente os seus conhecidos que por mérito próprio ascenderam na vida seja a nível intelectual, profissional ou porque casaram bem, entenda-se, a desposada possuía fartos cabedais em património imóvel e móvel.
As transformações sociais a par do incessante progresso cultural e científico especialmente na área das ciências aplicadas levou ao confinamento das ladradeiras tradicionais à colmeia de bairro, surgindo em sua substituição, a uma escala global, as denominadas redes sociais a povoarem o ciberespaço vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Nada escapa à bisbilhotice, à coscuvilhice, ao espreita à descarada, num gargantuesco apetite nunca satisfeito de intrigas, escândalos, do que comummente designamos por má-língua.
Dou um (podia referir milhentos) exemplo dessas espúrias representações das cloacas sociais: o diplomata Francisco Alegre Duarte, filho do poeta Manuel Alegre, neste momento assessor diplomático de António Costa, foi promovido no Palácio das Necessidades ficando apto a desempenhar as funções de Embaixador. As turbas soltaram uivos e acusações de favoritismo na lógica de os detentores de cargos políticos deviam abster-se de os seus filhos seguirem as pisadas paternas e/ou concorrerem a lugares de relevo.
Se as redes sociais executaram as previsões de George Orwell, a teoria de os filhos não terem direito a ascenderem profissionalmente na escala social faz lembrar as teorias do repulsivo estalinista Lissenko acerca daquilo que hoje é entendido por elevador social.
Declaração de interesses: não sigo ou pertenço a nenhuma rede social. Estou bem acompanhado, o professor Marcelo também não.
Armando Fernandes