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Santarém recupera ideia de elevador adormecida há mais de um século

O município de Santarém quer recuperar uma velha ideia que esteve adormecida durante mais de 100 anos. Desde o final do século XIX que não era apresentado qualquer projecto para a criação de uma ligação para facilitar o acesso ao planalto escalabitano a partir da Ribeira de Santarém

A inauguração da estação ferroviária de Santarém contribuiu para o aumento do número de viajantes que passaram a utilizar o comboio como meio de transporte para alcançar a região de Santarém. A primeira locomotiva a vapor parou na estação situada na Ribeira de Santarém no dia 1 de julho de 1861. No bairro que nasceu e cresceu junto do rio Tejo encontrava-se ainda um porto que recebia embarcações que circulavam pela principal estrada fluvial da região para transporte de passageiros e de mercadorias.

Numa época em que as alternativas para a subida até ao cimo da vila de Santarém se resumiam a penosas caminhadas ou ao transporte em carruagens e outros veículos de tracção animal, foram apresentadas várias propostas para a criação de uma ligação ao planalto escalabitano. Localizado sobre uma elevação com pouco mais de 100 metros de altura, desde a idade média que a calçada da Atamarma era a principal via para se chegar ao centro da antiga vila, embora fossem igualmente utilizados outros acessos desde o bairro ribeirinho, como a estrada que subia pela calçada de Santa Clara.

O projecto do Caminho-de-ferro funicular de Santarém, apresentado em Junho de 1891 (Arquivo Histórico Municipal de Santarém)

Visionários no tempo

No livro recentemente editado pelo município local, Santarém: Arte, História e Património, o historiador Luís Mata enumerou cronologicamente a lista de visionários sobre os quais encontrou registo de terem apresentado projectos destinados a facilitar o acesso ao planalto, contornando as características geográficas. “Para mitigar este problema começou a ser equacionada, desde 1883, a construção de um elevador funicular de carris”, conta Luís Mata. Nesse ano, foi apresentado um primeiro pedido de concessão por Carlos Augusto de Almeida Coutinho e João Maria Cardoso Freire de Andrade, dois moradores na vila de Alcobaça. “O projecto esbarrou nas reticências da Comissão Executiva da Junta Geral do Distrito”.

Dois anos depois, 1885 revelou-se bastante prolífico e criativo, embora todos os planos apresentados tivessem sido rejeitados. Ao longo do ano foram conhecidos quatro pedidos para a construção de acessos ao planalto. As iniciativas partiram de Francisco Dâmaso de Morais, de Santarém, de Januário de Brito Mendes, da Golegã, e de Augusto de Sampaio Garrido e António Pedro de Aragão Morais, ambos de Lisboa. Passados quatro anos, em Junho de 1889, a autarquia concedeu a este último um prazo de seis meses “para início dos trabalhos de montagem do elevador, sob pena de caducidade da concessão”, escreve Luís Mata. O projecto morreu ao atingir a data limite de 30 de Novembro de 1890, acabando também por levar à suspensão de um outro requerimento apresentado um mês antes, no final de Maio de 1889, por José Alves Ferreira e António Alves Ferreira.

A criação de uma ligação ao planalto escalabitano atraiu também a atenção de dois engenheiros de Lisboa, António José de Amaral Cardoso e António Carlos Roma Barbosa. Em Novembro 1890, “solicitam à Câmara autorização para construção e exploração de uma linha funicular entre Santarém e a estação de caminho de ferro, através da calçada da Atamarma”, lembra o historiador. O projecto chegou à Câmara em Junho de 1891, mas acabou por nunca sair do papel onde foi delineado.

“A última notícia que temos relativa à intenção da construção de um elevador”, aconteceu em 3 de Setembro 1891. Neste dia, “foi presente ao executivo um requerimento do barão de Kesseler e de Ernesto Bosset, no qual pedem a concessão do estabelecimento e exploração de um elevador de caminho de ferro com tração a vapor pelo sistema de caminho de ferro misto”. Mais ambicioso do que os anteriores, este novo projecto “visava pôr em contacto a estação de caminho de ferro, a ponte D. Luís e o bairro da Ribeira com o bairro de Marvila”, começando o traçado no largo de Marvila, “seguindo ao longo da rua de Marvila, Terreirinho das Flores, rua de S. Martinho, avenida da Alcáçova, largo do Queirós, em direção à Ribeira, com bifurcação para a ponte e a estação”, recorda ainda Luís Mata.

Localizado a cerca de 100 metros de altura, o acesso a Santarém inspirou diversos visionários ao longo dos tempos

Elevar Santarém

130 anos após o abandono do último projecto conhecido, a ideia de construir uma ligação entre a Ribeira de Santarém e o planalto escalabitano regressou à ordem do dia. No passado dia 21 de Junho, a Câmara Municipal de Santarém (CMS) anunciou a intenção de que “pretende ligar por ascensor a zona da Estação de Caminhos de Ferro na Ribeira de Santarém à zona do depósito de São Bento, no Planalto da Cidade”, um projecto que conta com a parceria da empresa municipal Águas de Santarém.

Nesse sentido, foi contratada a empresa PB.ARQ – Arquitectura Paisagista, também responsável por ter criado o projecto das escadas rolantes de acesso ao Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Este gabinete vai trabalhar com diferentes técnicos do município e das Águas de Santarém, em articulação com a equipa do PGEES – Plano Global de Estabilização das Encostas de Santarém. Paralelamente, vai ainda ser realizado um “o estudo da viabilidade da construção de parques de estacionamento no Planalto junto à nova infra-estrutura”. O estudo prévio deverá ser apresentado num prazo de 150 dias.

A imagem divulgada pelo município de Santarém que indica o local onde deverá nascer um novo acesso por elevador ao planalto

Em busca da melhor solução, a autarquia informou ainda que vão ser consideradas “as diversas condicionantes ao projecto, que pode passar por escadas rolantes cobertas, elevador ou teleférico”. Ricardo Gonçalves, presidente da CMS, considera que “este é um passo muito importante para a mobilidade e planeamento da cidade, que, apesar de pensado há alguns anos, só agora, após estabilização da encosta, pode ter seguimento”. O autarca realça que, “torna-se ainda mais justificável a sua concretização pela lamentável decisão do Governo PS de não deslocalizar a linha do Norte do actual traçado”. Se tudo correr como planeado e anunciado, até ao final do ano deverá ser conhecida a proposta para o futuro elevador de Santarém.

Carlos Quintino

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