Este período eleitoral torna mais visível o debate sobre a relação entre as associações desportivas, culturais ou recreativas e os partidos políticos. Vale a pena dialogar sobre o tema.
Qual o papel dos partidos e o das associações?
Os partidos devem, ou deviam, ter a preocupação de apresentar propostas e soluções para a vida comunitária. Em período pré-eleitoral os partidos devem reforçar a clareza da sua mensagem e nela incluírem o desporto, a cultura, a recreação…. É obrigação dos partidos dizerem o que propõem e dizerem o que fizeram no passado.
Os partidos representam interesses económicos, ideológicos, sociais… Como tal, a sua posição não é inócua perante a vida e o ativismo social – não é nem pode ser. Os partidos têm posições políticas e toda a vida humana é política. Assim, os partidos devem exprimir o que concordam ou discordam, o que propõem ou rejeitam, o que parabenizam e incentivam… A vida humana não é estanque nem vivemos numa ditadura em que a palavra seja proibida ou condicionada. Isso pode agradar ou desagradar às associações e ou aos partidos – mas isso é a vida democrática.
Os partidos têm obrigação de respeitar sempre a independência das associações e as opiniões de cada entidade devem ser livres e abertas. Um partido pode mostrar desagrado ou agrado pelo ato de uma associação, o inverso também é legítimo.
Por vezes gera-se uma confusão desagradável para todas as pessoas intervenientes. Os dirigentes partidários não podem falar no nome ou ação de uma associação e os desta não podem falar dos partidos – mas isso é “tapar o sol com a peneira”. Tenho um amigo que costuma dizer “para a gente não se enganar em relação à situação”. A sociedade só tem a ganhar com a real transparência e independência de cada entidade. Fingir que se é independente e depois agir “pela porta do cavalo” em favor de a ou b é que não me parece correto.
As associações fazem política, não em forma partidária, mas em forma de ação que propicia o desporto das pessoas, a ação cultural ou apenas um baile. Toda esta interação é positiva e própria do ser humano e deve ser feita em transparência e salutar debate democrático.
Para nós não nos enganarmos a nós próprios são muitas as pessoas com ativismo nos clubes e associações e também nos partidos políticos. É importante que o ativista respeite a democracia da sua associação e que as posições desta sejam as que a sua direção ou massa associativa decide – a democracia interna da associação. Não é positivo que a associação tome a posição x ou y porque um partido quer que a associação o faça.
Pessoalmente, não vejo inconveniente que a pessoa seja ativa num e noutro lugar, precisa é de ter sempre a coragem de – para defender a sua associação – criticar o seu próprio partido caso seja necessário.
A democracia não tem, nem pode ter, lugares e temas estanques; a democracia é o confronto salutar das ideias, propostas e balanços do que se fez antes, para todos, sobre tudo!
Vítor Franco