A propósito de mais um atropelamento mortal de uma mulher, grávida, ciclista, publiquei há dias o meu apoio à redução de velocidade automóvel nas zonas residenciais para 30 km/h.
A publicação no facebook, recebeu impropérios, comentários pretensamente científicos, acusações de fundamentalista da bicicleta e outras atitudes desqualificadas a que não dou troco.
É preciso colocar o dedo em algumas feridas:
1.ª É preciso acabar com o conceito de que o carro é o símbolo do sucesso, que se pode levar até “debaixo da cama”.
2.ª É preciso acabar com o dogma que dá ao automóvel individual a única possibilidade de mobilidade, desresponsabiliza o transporte público e desqualifica o poder autárquico.
3.ª É preciso dizer aos urbanistas e presidentes de câmara, que quando projetaram vias rápidas dentro das cidades isso só deu errado, que esse paradigma deu em inúmeros acidentes mortais e exclusão das pessoas com mobilidade reduzida.
4.ª É preciso dizer que passam de teimosos a outro adjetivo pior quando – depois de tanta triste estatística, de tanta produção de conhecimento sobre como bem-fazer, de tanta experiência positiva concreta por essa Europa fora –, se teima em manter erros que se pagam caro.
Portanto:
1.º É preciso aplicar o novo paradigma de mobilidade, sustentável, fluente, eficaz, útil e para todas as pessoas, que proteja as crianças e as pessoas idosas ou deficientes. Uma terra para tod@s!
2.º É preciso que as autarquias e as Comunidades Intermunicipais assumam as suas responsabilidades políticas e legais. Se não o fazem passa ao despautério, ou compadrio com o loby económico e ideológico do automóvel, ou são mesmo incompetentes!
3.º É preciso confrontar a Rodoviária do Tejo que não responde às necessidades porque quer é o seu lucro privado. A Comunidade Intermunicipal e as Câmaras podem perspetivar uma empresa municipal 100% pública, como já acontece noutros lugares, com horários adequados e quantidade e qualidade de serviço!
4.º É preciso acabar com o péssimo ordenamento do espaço público e estrutura dos arruamentos nas localidades. As Câmaras Municipais têm de mudar a agulha e pôr-se a trabalhar, com ou sem aproveitamento dos fundos europeus disponíveis para isso!
Caras e caros amigos
A ciência e a vida concreta já provou: “Os automóveis não podem continuar a circular à velocidade habitual, se queremos diminuir o número de acidentes, a sua gravidade, a poluição provocada pelos motores de combustão”. É o que começou a acontecer em Paris este fim de semana!
Tem dúvidas? 65,8% dos acidentes são em arruamentos! Consulte o Relatório de Sinistralidade, de junho, da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária! Convido também à leitura clicando neste meu artigo sobre atropelamentos ou este co-relacionado com mobilidade urbana.
Como dizia o nosso amado poeta Luís de Camões:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre, tomando sempre
Novas qualidades”
Cliquem aqui e ouça a linda interpretação do José Mário Branco.
Vítor Franco