Verdes e vermelhos são os campos
são os cardos são como os cravos
como as cepas ébrias são as éguas
são as águas são como os sonhos
como os seixos brancas são as casas
são as asas são como a paz as açucenas
rubras são as iras são as horas são
como a raiva o ódio e o pudor
as ceifas são saudades são suor
são como o trigo o folclore
secreto é o rumor é o tumor
é como a luz e a saudade
de veludo é a sombra é o prazer
é como a pele do negro touro
de bronze é o silêncio é o agoiro
é como o destino e o pavor
De longe chegam aves vem o vento
vem como a nuvem o nevoeiro
campinos são pampilhos são
caubóis a vida sem frio nesses olhos
os forcados são as pegas são a dor
a vontade insana sobre a morte
De Redol são as barcas são as garças
a glória dos humildes no romance
Saramago são as ervas é o chão
a escrita alucinada junto à terra
de Soeiro são esteiros é a fome
dos meninos banidos junto ao rio
gaibéus são a saga são desgraça
dum passado de miséria esfarrapada
Em brida vão cavalos vão cabrestos
vão como os dias como os meses
a lezíria é calor é a coragem
com ao Tejo ardendo agonizante
o coração é árabe é romano
o rosto velado como Ulisses
os montes anoitecidos lembram
monstros à espreita sobre as urzes
sob os astros as fontes são fadas
são as lendas e até o céu é um barrete
As cheias foram drama foram lama
a água em ameaça junto às telhas
barcos à deriva pelas ruas o rio
sem margens como em sonhos
a terra sem contornos encantada
d´avieiros pescadores aventureiros
A terra são comeres são a caça
a planície é o vinho o torricado
o bairro os enchidos o caldo verde
a serra são as grutas são os gnomos
o orégão o alecrim a beladona
o ar lavado depois da trovoada
aguinha a escorrer por todo o lado
algares abertos à alma libertada
Os poetas são jograis são trovadores
Ibn Bassam e Ruy Belo entre os melhores
gastronomia são enguias são fataça
o sável em açorda perfumada
para a gula honesta e sem pecado
tabernas são a isca são escabeche
torresmos patanisca feijão-frade
as sopas são da horta são de pedra
de coentros é a orelha são pezinhos
a palha é d´Abrantes e é sustento
para grande parte do luso parlamento
à cata de mais votos coisa fina
em Santarém comem-se pombinhas
e em Tomar as fatias são da china
Marialva foi passado foi o fado
a plebe e o fidalgo de braço dado
o fadango foi valente foi viril
foi ser macho galopar e beber vinho
os tempos são de lésbicas são de gays
que só o Clementino era assumido
sem remorso culpa ou foguetório
nem exigir que fosse obrigatório
As mulheres são bonitas são boninas
já cantadas pelos poetas desse então
agora ainda o são mas são ainda
o futuro do macho em extinção
O Ribatejo mudou mudou o vento
a moda é de chips shops é de chupas
que levam metade do orçamento
o futuro será mudança será fim
de tudo quanto muda e sucedeu
imutável só o nada só a morte
o dia em que um dia se nasceu
natal fomos nós e todo o cosmos
para onde parte amanhã o James Webb
mostrar à humanidade qual o seu lar
na gravidade que nos une e é desejo
que às estrelas um dia nos vai levar
mude a mudança da forma que mudar
mais este amor por ti ó Ribatejo!
Boas Festas a todos em todo o Universo!
MÁRIO RUI SILVESTRE