Poderá parecer um contra-senso, trazer ao de cima o termo Ensopar, quando milhões de pessoas andam ensopadas em suor mercê da canícula abrasadora. Mas não é. Pensemos nas sopas frias bem embebidas no líquido, numa técnica lenta e, logo a seguir aconchegamos o palato com as sopas de cavalo cansado ou o gaspacho que em terras portuguesas também se prepara primorosamente.
O Homem tem sabido criar/inventar um amplo receituário de sopas frias – doces, agres, meio-termo – de maneira a acompanhar as estações do ano, as andanças do tempo e a abundância ou carência de produtos. Nestes tempos de correria e mobilidade tudo está em constante mutação daí não existirem grandes agruras na obtenção de rubicundas mangas, coloca-las no frio, para depois serem laminadas no seu molho, aspergidas com duas pitadas de canela, ficarem a repousar duas ou três horas para serem servidas quando muito bem nos apetecer.
A técnica de ensopar é inimiga da rapidez ou pressa, a citada lentidão é a regra de ouro seja no tocante a sopas quentes ou frias, de resto a expressão medieval molhar a sopa implica aproveitar o caldo sobrante ou não, para os restos de pão duro serem molhados até se desfazerem na boca, quantas vezes carecida de dentições pelo menos capazes de mastigarem a tal côdea apaziguadora dos rugidos estomacais.
Armando Fernandes