Carpe Diem, quam minimum credula postero (“aproveita o dia e confia o mínimo possível no amanhã”), disse-o Horácio, numa das suas “Odes”.
A ficção científica, ingénua, nega-o liminarmente e há muito que leu, com lucidez, as linhas dum futuro quase provável[1] e retratou-as com ocasional génio, em livros, filmes, séries televisivas e BD. Poucos a acreditaram, preferindo Horácio.
Mas os senhores dos offshore, que nunca dormem, viram o perigo e criaram inúmeros filmes, livros, BD, séries televisivas que veiculassem exatamente o contrário: não se preocupem, há um “herói”, ou deus, misto de Robocop, Jesus e Wolverine, que nos salvará! E de mãos nuas!
Voltaram os superhomens[2]. Sim, pela mão da FOX e de Murdoch, entre muitos outros profetas menores.

Assim, os vinte e dois anos do presente século presentearam-nos com inúmeras obras, que – na sua maioria – mais valera nunca terem existido. Nas séries cinematográficas atuais, a diferença moral de comportamentos dos “bons” e dos “maus” (vejam “Dirty Harry“, de Eastwood) quase não existe.
Mas releiam-se os grandes clássicos da antecipação. A putrefacção bizantina de visão do mundo (moral, ambiental, desigual) em que vivemos hoje, foi prevista certeiramente e condenada sem atenuantes.
As experiências dignas de Mengele (para utilização em guerras química, bacteriológica, genética), as consequências de pandemias e genocídios imparáveis.
Guerras religiosas e luta pela água e pelos alimentos. Início de uma guerra atómica e o que se lhe seguirá.
Os organismos geneticamente modificados, sejam eles fashion model ou grão de trigo.
As catedrais do consumo e o homem escravo da necessidade de consumir sempre mais. Com recursos que no nosso planeta são limitados.
Em conclusão, podemos dizer que a FC avisou.
Mas ao que que parece, de nada serviu.
Um último alerta: convém que os que se “iniciam” na FC encarem como meros adereços teatrais os planetas exóticos, os alienígenas escamosos com oito patas, as naves espaciais gigantes.
No centro dos livros que merecem leitura, estão as modificações da robótica ou das viagens pelo espaço, as alterações sociológicas do mundo em que iremos viver, as guerras pela água ou contra a fome, a descoberta de outras culturas (noutros planetas, noutro futuro) que alargam o “nosso” sentido (que pensávamos universal) de Deus, imortalidade, “bem e mal”, da guerra, da cultura. O que justifica lê-los e recomendá-los.
Boa sorte.
Carlos Macedo

[1] Ajudada pelos horrores das guerras, recessões, pandemias, aniquilações climáticas.
2 Como por exemplo, a banda desenhada de Stan Lee e Jack Kirby, de onde surgiram inúmeros filmes dela derivados, origem de uma longa série, iniciada em 2000.