Este Natal 2022 é em Bruxelas. Uma cidade boa para um Natal diferente. As ruas rolam rápido e em ritual. Fartas! E felizes! Sem que a chuva e o frio intercedam. Aliás a chuva em Bruxelas é irmã da do Porto. Conversam muito. A qualquer hora. De quando em vez, o Sol apanha-a distraída e sorri. Como ontem, consoada.
Ouça aqui o áudio da crónica de Ana Freitas no podcast do Mais Ribatejo:
Lembrei-me que os meus heróis Salvador, Alex e Habib adorariam estar cá também.
Bruxelas ferve. Quem não quer estar em casa, tem restaurantes cheios de gente. Locais muito aprazíveis, com espaço e o conforto da madeira. O requinte dos restaurantes franceses. As ruas também. Onde se pode passar horas sem gastar um cêntimo. Entretidos a passear, a apreciar arquitecturas, a ver montras e outras minhoquices, a observar culturas. E mostras de sortidos saibos de vintenas de chocolates belgas. Sob um tecto de iluminações preciosas, doces, únicas. Cada rua uma iluminação. Algumas são salas dignas de palácios reais. Não fosse a Bélgica terra de realeza. E vê-los-ia, tal como eu, boquiabertos.
Bares estilo inglês que podemos apenas passar e apreciar. O Millenium, o ex-libris da cerveja. Trinta bicas a correr tipos distintos de cerveja ao longo de um balcão corrido para trinta copos, cada um de design identificador da família e fermentação do líquido. Carros de waffles, de batatas fritas. Feiras de Natal com comes e bebes belgas e cosmopolitas.
A Grand Place é sempre um borbulhar bonito. Dourado. Ou em qualquer cor e som aquele círculo arquitectónico seiscentista prende-nos. É o truque do espectáculo multimédia amiúde oferecido.
Na zona da Place du Grand Sablon recolher-se-iam nas artes. O Museu do surrealista Magritte. O Museu Real de Belas Artes da Bélgica. Galerias ricas que os olhos comem.
Tropeçariam em Jacques Brel cantante em frente à sua Fundação. E render-se-iam a Ne me quitte pas.
Serenariam nos parques bruxelenses. No Cinquentenário, com o seu Palácio e o Arco do Triunfo. Ou no Parque de Bruxelas. Ou…
Naquela enorme taça de salada que Bruxelas é, os três amigos encontrariam irmãos de língua. Aqui, ali, além. Que Natal!
Apesar da evidência de vida melhor na Bélgica, o seu nível, o respeito pelo outro, e a própria história nos revela ser um país de exílio, Bruxelas não esconde as crueldades do mundo. Os sem-abrigo. De nações díspares. Muitos encontram nesta condição a paz. Um passo para a liberdade. E interpelam-nos.
