Os impactos do negócio da droga sobre a população são muito negativos. Esse negócio de milhões eleva os níveis de violência na sociedade, de gangues que disputam territórios, de assaltos feitos por consumidores para conseguir dinheiro, de lavagem de dinheiro sujo…
O negócio da droga impacta sobre as forças de segurança ocupando-lhes enorme energia, tempo e recursos, de igual modo sobre o sistema judicial e depois sobre as prisões. Impacta sobre o sistema de saúde com os efeitos das overdoses, as doenças transmissíveis… Impacta sobre as famílias desestruturando-as, criando conflitos enormes e desgostos maiores… Impacta sobre o sistema de educação, alvo privilegiado dos traficantes que tentam captar novos consumidores muitas vezes a partir da comercialização das drogas leves.
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Houve um avanço civilizacional
A criação dos Centros de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) e do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) aliada à despenalização do consumo das drogas leves foi um grande avanço civilizacional. Muitos jovens deixaram de ir para à prisão, muitos toxicodependentes foram aproximados do sistema de saúde criando estabilidade de vida, familiar, laboral…
O programa de troca de seringas, “diz não a uma seringa em segunda mão”, foi um excelente contributo para a contenção de doenças transmissíveis como a Sida e as Hepatites B e C… A criação de equipas de rua e mais recentemente as salas de chuto diminuíram a exclusão social, a marginalização e aproximaram toxicodependentes do sistema de saúde público.
Perseguir a doença, não os doentes!
As políticas portuguesas sobre as drogas conquistaram elogios e estudos em todo o mundo. Não foi fácil suplantar o conservadorismo que trata tudo com criminalização. Criminalizar traficantes e não os consumidores, ou, como diz o médico especialista José Goulão “perseguir a doença, não os doentes”!
O presidente da Câmara do Porto veio agora ressuscitar velhas frases do ex-líder do CDS Manuel Monteiro, é tipo “tudo para a prisão”. Rui Moreira deveria centrar as suas críticas na diminuição dos serviços públicos ligados à toxicodependência, na extinção do IDT e na concretização de novas salas de chuto no Porto e nos serviços de apoio social ao problema ligados.
A posição de Rui Moreira “É uma tentativa de criminalizar a pobreza e um ataque aberto a pessoas que não têm capacidade de responder ao mesmo nível. Cada vez que se alimenta o estigma e o preconceito estamos todos a perder.” Disse, muito bem, Rui Coimbra, da associação Consumidores Associados Sobrevivem Organizados (CASO).
Há uns tempos estava numa farmácia e entra um homem que pede uma seringa. A farmacêutica pediu-lhe o dinheiro, mas ele não o tinha, ficou “eletrizado de angústia”, via-se como sofria na ansiedade da dose. Puxei pelo meu dinheiro e paguei a seringa do homem. Agradece-me e abala rápido. Pergunto: como diminuir os graves impactes sociais das drogas duras? Como deixarmos de “correr atrás do prejuízo”?
Não sei as respostas, mas tento saber as perguntas. É preciso fazer boas perguntas para encontrar boas respostas!
E se o Estado vendesse drogas duras, além de distribuir gratuitamente a metadona?
Vítor Franco