Martin Niemöller, símbolo da resistência aos nazistas, escreveu há mais de 80 anos, na altura a propósito da forma como muitos encararam o nacional-socialismo e Hitler ao longo de excessivo tempo:
“Primeiro vieram buscar os comunistas e eu não disse nada pois não era comunista. Depois vieram buscar os socialistas e eu não disse nada pois não era socialista. Depois vieram buscar os sindicalistas e eu não disse nada pois não era sindicalista. Depois vieram buscar os judeus e eu não disse nada pois não era judeu. Finalmente, vieram buscar-me a mim – e já não havia ninguém para protestar.”
Vários outros adaptaram este texto, sendo talvez a versão mais conhecida e interessante, a de Bertolt Brecht, dramaturgo, poeta e encenador alemão, que escreveu:
“Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso, eu não era negro. Em seguida, levaram alguns operários, mas não me importei com isso, eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei, porque eu não sou miserável. Ainda foram também uns desempregados, mas como tenho meu emprego, também não me importei. Agora estão a levar-me a mim, mas já é tarde… Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa também comigo.”
Hoje talvez não faça já sentido, e felizmente, pelo menos pelas nossas paragens, falar na detenção quer de comunistas, socialistas, sindicalistas ou judeus, quer de negros, operários miseráveis ou desempregados. Mas continuamos a ter este tipo de comportamento de alheamento ou indiferença com os problemas e com o sofrer dos outros desde que não nos afetem muito diretamente a nós próprios. E manifestamos esses alheamento e indiferença com os problemas financeiros e com as doenças dos outros, com alguma segregação que ainda impera, se bem que progressivamente menos, dos homossexuais e até, por vezes, com a solidão dos pedófilos e dos assediados. E outros exemplos poderia aqui referir…
Vêm estes textos aqui hoje à baila a propósito do falecimento no passado dia 19, do comendador Rui Azinhais Nabeiro, fundador e carismátimo líder do Grupo Delta, a quem quero aqui desta forma aqui homenagear, por ser um excelente exemplo do oposto destes negativos comportamentos que descrevi, quase que generalizados.
Francisco Mendes