No mesmo dia da coroação do rei inglês (6 de maio), a «Sociedade Recreativa Operária», de Santarém, vai homenagear um sapateiro: Diamantino de Jesus Faustino.
Antigo presidente desta coletividade, ele faleceu três meses depois de sair das ‘garras’ da PIDE. Tinha apenas 35 anos de idade.
Foi preso político em Caxias, no Aljube e no Forte de Peniche.
É um símbolo do associativismo e da resistência popular à ditadura de Salazar, na cidade de Santarém e no Ribatejo.
Desporto
Diamantino Faustino foi também dirigente do antigo clube desportivo «União Operária», várias vezes campeão distrital de futebol e antepassado da atual «União Desportiva de Santarém».
Nessa qualidade, Diamantino foi um dos principais responsáveis pela construção do estádio de futebol que hoje existe naquela cidade, na versão inicial inaugurada em 1946.
Uma obra que assentou em trabalho voluntário e que representa um exemplo do potencial criador que é gerado quando pessoas ‘comuns’ se associam em torno de um mesmo objetivo.
Cultura
Na área cultural, Diamantino Faustino foi um dos responsáveis do «Prémio Literário Ribatejano», que existiu nos anos 1940.
Também nessa época, fez parte de uma interessante experiência que juntou várias coletividades num trabalho coletivo de dinamização da cidade.
Chamou-se «Grupo de Coordenação Cultural» e mexeu à época com atividades diversificadas, desde a conferência ao espectáculo musical e à exposição de pintura.
Uma experiência que se alargou a sedes de concelhos vizinhos, Almeirim e Alpiarça. Até soçobrar no contexto da ditadura.
Diamantino participou nesse grupo cultural como delegado da «SRO».
Sapateiro
Nascido na cidade de Santarém, em 1914, Diamantino de Jesus Faustino era filho de um sapateiro republicano e seguiu o mesmo ofício.
Pertenceu assim a um setor profissional que era especialmente numeroso nesse concelho. Numa época em que ali existiam várias oficinas e pequenas fábricas dedicadas à produção de calçado novo, para além de procederem a reparações.
Democrata
Outra faceta de Diamantino Faustino foi a sua participação na luta pela liberdade e na resistência à ditadura. Fê-lo como militante do então proibido Partido Comunista Português.
Foi preso pela PIDE e condenado em tribunal pelos ‘crimes’ de distribuir alguns exemplares do jornal Avante e de angariar alguns fundos para o seu partido.
Homenagem
A homenagem que agora vai ser prestada a Diamantino Faustino terá lugar no próximo dia 6 de Maio, às 18h30, na sede da Sociedade Recreativa Operária: Rua Serpa Pinto, nº 125, Santarém.
No chamado “Largo do Padre Chiquito”.
Nota: A imagem que ilustra este artigo é do “Registo Geral de Presos”, do Arquivo da PIDE/DGS, à guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Estarei presente com todo o prazer na homenagem que vai ser prestada a uma pessoa que não conheci mas que foi GENTE GRANDE numa Colectividade com grandes recordações para mim .
Não é só a memória do movimento popular iniciado no dia 25 de Abril, com o golpe de Estado levado a cabo pelos capitães que derrubou a ditadura fascista, que foi apagada, toda a memória da resistência e luta da classe trabalhadora, a sua história, foram silenciadas, destruídas.
Por isso, esta homenagem e todo o trabalho e iniciativas que tragam à luz do dia a história da classe trabalhadora é de saudar e merecedoras de todo o apoio.
No dia 6, o encontro é na Sociedade Recreativa Operária de Santarém.
Porque sem memória histórica, a classe trabalhadora – “é como um barco à deriva” – não conhece o seu passado, não tem memória histórica – foi-lhe roubada ou foi ela que se deixou roubar? Como tal, não sabe como chegou à situação presente e dificilmente consegue ser criadora consciente da história futura da humanidade.