Onde reside, no espírito humano, a razão para a guerra e não para a paz? Parecem haver razões de sobra para a guerra.
Vemos a paz como um estado passivo e não um estado activo. Tratamos a paz apenas como a ausência de motivos que levem à guerra.
Talvez por isso seja fácil desembocar na guerra se não houver motivos para a paz.
Se ela for vista como o parente pobre das relações humanas, uma passividade monótona, em vez de uma pacificidade dinâmica.
E, numa sociedade assim, abundam as razões para a guerra. Aliás, a própria existência é uma guerra.
O peso dos vários prós e contras é que determina o passo a ser dado, e este princípio é válido, quer se aplique a uma rixa no intervalo escolar, quer a uma guerra de proporções mundiais.
E à medida que a guerra no leste europeu se desenvolve, assistimos a uma anuência social desta.
Creio ser óbvio para todos que um país tem o direito de se defender.
Mas de uma invasão russa que se verificaria rápida e eficaz, para pedidos cada vez mais exigentes de ajuda militar por parte do presidente ucraniano, chegámos recentemente até a incursões ucranianas em território russo, e eis-nos no dealbar da tão esperada contraofensiva.
A necessidade de produção de armamento para enviar para um palco de guerra é imperiosa, mas não o é o pedido de cessação da maneira mais estúpida à face da Terra de gastar recursos.
A solução apresentada é que se continue a guerra até que alguém ganhe ou que alguém desista (o outro lado, obviamente). Paz por acordo mútuo é um insulto e uma infantilidade.
“Cá”, a razão está toda do lado ucraniano. “Lá”, a razão está toda do lado russo.
No meio, há uma região a ser massacrada há anos.
A própria comunicação social afecta, quer a um lado, quer ao outro, parece sôfrega, não da paz, mas da triunfante vitória. Afinal, a guerra fez-se foi para ser ganha e mostrar ao resto dos meros mortais de que fibra somos feitos.
“Glória à Pátria nas alturas e paz na terra aos homens por ela amados”.
A paz está em segundo plano, e ela há-de vir, mas só depois da tão aguardada vitória. Haverá lá sentimento mais nobre do que matar os inimigos.
No final da 2.ª Guerra Mundial, a ONU foi criada com o intuito de promover a cooperação entre os povos, a paz, a prosperidade económica, etc.
Encontram-se, no meio dos propósitos nobres desta organização benemérita, dois conceitos deveras interessantes. A integridade territorial e a autodeterminação dos povos.
Uma das ironias é que esta autodeterminação é concedida quando e a quem dá jeito. Haja arrogância.
Outra das ironias é que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU têm uma apetite especial pela guerra ou, pelo menos, pelo domínio.
Era esta Organização das Nações Unidas ainda jovem quando decidiu contribuir para a adição de barris de pólvora no Médio Oriente.
Fez-se um empurrão pelas costas, protestou-se, mas o VAR fez vista grossa e alegou ser carga de ombro. Seguiu o jogo.
Desde aí, Israel respeitou incondicionalmente as condições propostas pela ONU. Não, não respeitou. Decidiu “autodeterminar-se”.
Esta mesma organização, durante o genocídio que ocorreu no Ruanda, decidiu efectuar uma “retirada estratégica” dos seus capacetes azuis, já que os contras para a ONU eram mais pesados que os prós para o milhão de ruandeses assassinados.
Recentemente, António Guterres apelou ao fim das agressões entre as duas partes no Sudão. E por que é que alguém lhe há-de dar ouvidos?
Que tem o mundo “civilizado” a esperar do que possa acontecer por esse planeta fora?
Um dos vilões do filme “Sahara” diz algo que espelha a cruel realidade: “Não se preocupem. É África. Ninguém quer saber de África”.
Gastamos triliões a alimentar o defensor (que tem todo o direito de se defender, repito) de uma guerra, com intuitos que não são os da procura da paz. É triste dizê-lo, mas é preciso dizê-lo.
Será da paz que estamos à procura? Ou do benefício próprio?
Como é que podemos esperar a paz?
Penso que não é demais partilhar esta frase.
“As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz.“
M. Montessori
João Barreiro
Pretendo usar a impressionante imagem da pomba morta na capa de um livro que estou escrevendo. Você poderia me informar onde posso entrar em contato com o artista (Ebert) – um contato por e-mail seria ótimo – para que eu pudesse tentar obter permissão para usá-lo?