Quarta-feira, Outubro 4, 2023
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O sentido de cada um e o sentido comum – a crónica de Ana Freitas (c/podcast)

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Em 2021 em Oslo, o guia turístico norueguês questionado sobre o significado e depois sobre a razão daquela faixa bem visível junto de belíssimos edifícios  “Bjørvika er for alle”(Bjørvika é para todos)[1] respondeu:

– “Esta zona foi construída recentemente, todos estes apartamentos foram vendidos a um preço altíssimo, quase todos a estrangeiros. Então estes fizeram um abaixo-assinado para que a praia pública existente em frente aos seus edifícios luxuosos deixasse de existir. O governo imediatamente esclareceu todos com esta frase. E para que não haja dúvidas mantém-se.” Disse-o com a tranquilidade de quem sabe que, no seu país, há coisas que são inquestionáveis. De sentido comum. Alguns de nós olhámo-nos. Como gostaríamos de ver frases afins por todo o nosso Portugal.

E vem-me à ideia Tzvetan Todorov[2]. E faz-me sentido aplicar a sua teoria sobre a questão do outro[3] à nossa sociedade. O nosso problema da percepção do outro ainda permanece das nossas conquistas mundo afora. O navegador recusa a existência de um humano realmente outro, que não seja apenas uma imperfeição de si mesmo. E limita-se a ver as coisas como lhe convém. Só quer ir em busca do ouro. Descobre a “América, mas não os americanos.” Esta ideia faz-nos compreender. Mas não nos justifica. Já lá vão seis séculos. Já nascemos e crescemos muitas vezes. Viver é aprender. Para o bem de cada um e para o bem comum.

Existem muitos sentidos. Coisas com sentido. Coisas sem sentido algum. O que para uns faz sentido, para outros nenhum sentido faz. O que importa é que haja coisas que nos façam sentido. Sem elas ficaríamos vazios. E a vida para ser vivida tem que fazer sentido. O que importa é que haja coisas que façam sentido para todos. Por exemplo, ver em cada ser humano um igual. Com tudo o que de diferente e único cada um tem. Que é a mesma coisa que dizer não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti. Como me dizia o meu pai amiúde. E eu achava natural que assim fosse.

Desde adulta dou por mim a repetir-me, tal como o meu pai.

Ana Freitas

[1] Bjørvika é um bairro na zona este de Oslo, que é uma enseada no fiorde, situada entre Gamlebyen e a Fortaleza de Akershus. É um novo centro cultural e urbano de Oslo. Aqui estão a Ópera Nacional, a Biblioteca Pública de Oslo e o Museu Munch.

[2] Tzvetan Todorov (Sófia, 1939 – Paris, 2017), filósofo, linguista, pensador. Em 2008, vencedor do Prémio Príncipe das Astúrias de Ciências Sociais por representar “o espírito da unidade da Europa, do Leste e do Oeste, e o compromisso com os ideais de liberdade, igualdade, integração e justiça”.

[3] La Conquête de l’Amérique : la question de l’autre, Paris, Le Seuil, 1982.

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Ana Freitas
Ana Freitas
Ana Teixeira Freitas, poeta e professora radicada em Coruche, autora dos livros de poesia , "0 Círculo" e "Cintilações", da Editora Apenas Livros, e “Alfobres de Rios”, editado pela ModoCromia, Edições, Lda, e do romance “Uma Possibilidade chamada Menina”, editado pela ModoCromia em 2022. Principal dinamizadora do programa Um Poema na Vila, que vem organizando sessões de poesia desde 2012, em Coruche.
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