Sexta-feira, Dezembro 8, 2023
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A qualidade de vida do sénior também depende do uso racional do medicamento

Não é demais referir que há situações que obrigam a cuidados especiais no modo como usamos os medicamentos, sobretudo nas doenças associadas à função renal, sistema nervoso central, doenças do foro cardíaco e as variações da pressão arterial. Os cuidados específicos em seniores na sua relação com os medicamentos baseiam-se no facto destas pessoas já terem uma ou mais doenças crónicas. É do senso comum que quanto maior for o número de medicamentos que uma pessoa toma maior é a probabilidade de surgirem interações que, no mínimo, podem alterar a eficácia do medicamento, e como também é por todos sabido pode haver reações adversas de maior ou menor gravidade.

O organismo do sénior é diferente do adulto maduro: neste grupo etário a acidez gástrica é menor, o que pode modificar a absorção de alguns medicamentos; a diminuição dos movimentos intestinais pode também contribuir para uma absorção mais lenta; o sénior tem também baixo nível de proteínas no sangue, o que traz implicações e que potenciam a sua toxicidade; à medida que a idade progride, os rins reduzem progressivamente a sua atividade e como os medicamentos são eliminados por este órgão, a diminuição da função renal faz com que o medicamento se acumule, com probabilidade do aumento do seu efeito ou maior toxicidade.

Estes esclarecimentos prévios procuram fazer realçar que a escolha e o uso racional do medicamento são fatores determinantes da nossa saúde. Nada como exemplificar.

No caso de uma baixa subida da pressão arterial, a recuperação dos idosos é sempre mais lenta e as consequências mais gravosas que num indivíduo na força da vida. Existem medicamentos que são tidos como contraindicados no idoso, havendo outros que podem ser administrados sob vigilância mais apertada e outros há, ainda, que, quando administrados obrigam à redução da dose. Podem ser exemplos significativos os medicamentos para induzir o sono, os anti-inflamatórios e os cuidados a ter quando se sobre de hipertrofia da próstata (os seniores devem ter uma atenção especial aos medicamentos que toma, dado que alguns estão contraindicados porque podem agravar a hipertrofia e dificultam o urinar – é o caso dos calmantes, os destinados às cólicas e aos estados gripais).

A primeira lição a tirar é de que o tratamento dos chamados pequenos mal-estares se faça com vigilância do médico ou com indicação farmacêutica. O sénior é um doente como outro qualquer, mas que necessita de alguns ajustamentos na prescrição e uma escolha mais seletiva de medicamentos e respetivas doses.

A segunda lição a tirar é que a escolha dos medicamentos deve ser prescrita pelo médico e no caso dos males menores com indicação farmacêutica. Damos o exemplo: nenhum anti-inflamatório é inócuo. Veja-se como e porquê. Nas artroses e outras afeções ósseas muito dolorosas pode ser necessário a toma de anti-inflamatórios, são medicamentos agressivos para o estômago e, por vezes, responsáveis por gastrites e hemorragias digestivas que não são visíveis. Estas hemorragias são responsáveis por anemias crónicas, muito habituais no idoso. Pode reduzir-se esses efeitos tomando o medicamento depois da refeição, com um bom copo de água. Por vezes, os doentes, receando o efeito destes medicamentos sobre o estômago tomam doses insuficientes para conseguir o alívio, o que os obriga a tomar dois o mais anti-inflamatórios. Esta atitude é totalmente desaconselhada, pelo que é recomendado que só se tome um medicamento anti-inflamatório, nas doses efetivas e aconselhadas à idade.

Mais tarde aqui falaremos sobre o sénior enquanto doente crónico, os cuidados a ter com a automedicação e o que é uma boa adesão terapêutica em tal período da vida.

Mário Beja Santos

Mário Beja Santos
Mário Beja Santos
Toda a sua vida profissional, entre 1974 e 2012, esteve orientada para a política dos consumidores. Além da atividade funcional, foi representante associativo, tendo exercido funções no Comité Consultivo dos Consumidores, na Comissão Europeia, e na direção da Associação Europeia de Consumidores. Foi autor de programas televisivos e radiofónicos, bem como de dezenas de trabalhos no campo específico do consumo. Ao nível da sua participação cívica e associativa, mantém-se ligado à problemática dos direitos dos doentes e da literacia em saúde, domínio onde já escreveu algumas obras orientadas para o diálogo dos utentes de saúde com os respetivos profissionais, a saber Quem mexeu no meu comprimido?, 2009, e Tens bom remédio, 2013. Doente mas Previdente, dá continuidade a esta esfera de preocupações sobre a informação em saúde, capacitação do doente, o diálogo entre os profissionais de saúde, os utentes e os doentes. Colabora frequentemente com a imprensa regional e blogues, e exerce benevolato com associações de consumidores, como seu representante. Desde 2006 que se dedica igualmente a estudos sobre a colónia da Guiné portuguesa e a vida política na Guiné-Bissau, temas sobre os quais publicou uma dezena de livros.
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