Fui desafiado a fazer de “crítico de cinema”, resisti mas lá fui. O filme Barbie passa-se na Barbielândia, onde todas as bonecas são Barbie e todos os homens são Ken.
O filme começa com o domínio de canções banais, quase um musical sem qualidade, de uma vida de festas. Quase todos os cenários são de plástico pró cor-de-rosa, quase todas as meninas vestem tons rosa. A direção de fotografia deste filme parece ter cumprido bem as tarefas atribuídas.
Estes cenários fariam a delícia de Damares Alves, a ministra da Mulher e Família do ex presidente do Brasil, Bolsonaro. Recordam-se que ela afirmou a entrada numa “nova era” em que “menino veste azul e menina veste rosa”. Acresce, os cenários são precisamente os objetos que a empresa produtora da Barbie, a Mattel, comercializa. São lugares faz-de-conta e manipulados numa mensagem pretensamente feminista.
Barbie é a jovem elegante, alta e loura, o corpo belo, padrão comercializado de modelos, vestuários e posturas, negócio de milhões onde só a beleza tinha esse formato. A boneca Barbie, criada a partir da adaptação de uma boneca sexual, ao humanizar-se já não consegue andar a não ser de sapatos altos pois o calcanhar não assenta no chão. Ah, a Barbie tem os pés chatos e ganhou obesidade nas coxas… Barbie é “confrontada” com os males reais na sua humanização.
Barbie é o foco das atenções e da atração masculina, como de Ken, o seu namorado que sempre aparece de peito nu e depilado, mostrando os músculos. O filme desde cedo parece questionar o patriarcado – um dos pilares do capitalismo realmente existente. Neste sentido, o filme parece dirigir-se para essa crítica à sociedade onde o homem domina, é proprietário de mais de 90% das empresas e transmite a propriedade e o domínio político quase sempre a outro homem. Há uma imagem icónica no filme quando a Barbie, já ser humano, chega à reunião da administração da Mattel e todos são homens.
Em crítica, ou não, aos conceitos de masculinidade estão as cenas em que os homens “tomam o poder” no país de plástico. Aí replicam o uso da mulher como acessório sexual, as festas da cerveja em abundância, a criação de lixo e o retrocesso cultural.
De volta ao país de plástico cor-de-rosa Barbie organiza a revolta contra o domínio masculino, curiosamente com as mulheres a reproduzirem formas de estar subservientes quais objetos para o agrado masculino para enganar os homens… A conquista da igualdade de géneros deve pressupor mudanças na consciência dessa igualdade por ambos os géneros, partilha e transformação social positiva. O feminismo, movimento de conquista dos direitos das mulheres, opõe-se ao machismo pela defesa da igualdade de géneros; não o domínio da mulher sobre o homem.
O filme, que algumas pessoas chamam de feminista, é uma ferramenta publicitária muito bem pensada. O filme já teve 4 milhões de euros de receita, o casaco de peles que Ken publicita no filme está à venda no site da Mattel por 129,99€. Há países onde a tinta cor-de-rosa esgotou e as meninas assistem aos filmes vestidas de rosa. Entretanto a empresa tem distribuído Barbies em escolas de todo o mundo para “democratizar” a alienação da mercadoria aqui chamada Barbie. Este filme é, não apenas um sucesso de bilheteira, um dos trailers já tem 73 milhões de visualizações no Youtube, é uma genial jogada comercial.
A diretora e roteirista do filme, Greta Gerwing, é uma senhora premiada e prestigiada, de qualidades mais do que afirmadas e confirmadas, mas…
A finalizar, direi que Cristiano Ronaldo é um excelente futebolista, mas também faz filmes publicitários ao champô.
Vítor Franco
