Amanhã, dia 14 de Setembro de 2023, o BCE comunicará a sua decisão de manter ou voltar a subir as suas taxas.
Foi a 21 de Julho que 2022 que foi anunciada a decisão de subir as taxas para combater a inflação, comprometendo-se o Conselho Geral a normalizar as taxas nas reuniões futuras.
Ora, há certas questões que têm sido pouco debatidas ou esclarecidas neste tempo.
Seria bom ver explicado de que modo a inflação em si é um efeito inevitável do sistema financeiro-económico em que vivemos.
Porque é que uma inflação pequena é boa (os bancos centrais tendem a considerar 2% como ideal) mas uma inflação alta é má.
Sê-lo-á inerentemente, ou serão os seus efeitos que colocam a nu alguns problemas sistémicos? E será uma inflação de 2% boa, ou será ela a consequência do sistema financeiro vigente?
O dinheiro não é só criado para representar o estado actual da economia. É criado para representar (e alavancar) a expectativa do estado futuro da economia.
Mecanismos como o sistema de reserva fracionária (ou, se o leitor preferir, anotações de dívida e crédito – pior a emenda que o soneto!) fazem com que a ideia de dinheiro existente (que em certa medida passa a ser real, ainda que não físico, mas isso fica para outro artigo) seja maior do que o dinheiro existente. Demasiado dinheiro “real” a ser aplicado/transaccionado diariamente pode levar a uma inflação demasiado alta (e a um óbvio descontrolo entre aquilo que a economia produz e aquilo que se espera poder comprar), mas a expectativa de dinheiro ou a confiança na sua existência permite que a roda da economia continue a girar.

Este extra constante, fruto da capacidade de mais dinheiro para emprestar e de mais dinheiro (vindo de qualquer outro lado) necessário para repagar os empréstimos, é causador de inflação, na medida em que o dinheiro criado não o é apenas na medida em que reflecte o crescimento económico, mas sim sempre superior a essa medida.
No entanto, permitam-me dizer que não é, de todo, o dinheiro que desenvolve a economia. É a produção, fruto do trabalho, motivado esse pela necessidade ou pela expectativa de enriquecimento (traduzido no nosso sistema por dinheiro) que leva à procura de crescimento económico e, se tudo correr bem, ao crescimento económico.
Mas voltemos à inflação actual e ao BCE.
Se a inflação estivesse neste nível devido à grande procura (como foi alegado por alguns), isso significaria que o poder de compra geral seria tão elevado face aos bens, que, naturalmente, os vendedores quereriam subir os seus preços ao ver uma procura mais elevada do que a oferta disponível.
Ora, embora a saída da pandemia tenha tido influência na subida da procura de determinados bens ou serviços, não se verifica nem um poder de compra anormalmente maior que o anterior, nem esgotamento de stocks constante que comprovem a procura exagerada.
O esgotamento de stocks ou a menor capacidade de reposição pode, pelo outro lado, olhar-se pelo lado da oferta, devido às interrupção das cadeias de produção bem como à subida do preço de certos produtos ou de bases como a energia (que afecta o todo da economia), fruto do risco e da dificuldade causada pela guerra na Ucrânia.
Uma situação destas pode, em maior ou menor grau, justificar dificuldades económicas.
No entanto, mesmo que esta situação corresponda à verdade isso não nos garante que toda a inflação seja causada por ela. Aliás, se fosse, os lucros de certas empresas não poderiam ter aumentado. Os preços sim (face aos aumentos dos custos de produção), os lucros não (pois significam um aumento de preços maior do que o aumento dos custos de produção).
Só que esta situação cria um álibi para se aumentar os preços.
As margens de lucro têm sido apontadas, quer pelo BCE, como pelo FMI, como a causa maioritária da inflação. Este fenómeno, o “profit inflation” ou “profit led inflation” tem sido explicado de forma um pouco desadequada.
Não são os lucros que levam à inflação (como é comummente dito), mas sim a procura dos lucros, através da subida dos preços. A subida dos preços (em vista ao aumento dos lucros) é que é a própria inflação!
Não são as empresas que aumentam os lucros e depois os produtos ficam mais caros. Os produtos é que ficam mais caros para as empresas aumentarem os seus lucros.
João Barreiro