Teias. Atemorizam-nos. Tememos nelas enredarmo-nos e jamais nos soltarmos. Mas como em tudo também há boas teias. Por exemplo, a dos transportes públicos. E esta é vital. Tal como haver menos carros a invadir os centros das cidades. E até diria qualquer sítio. Não só o badalado ambiente agradeceria como todos nós.
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O carro é cómodo. Talvez nem tanto. Quando enfiado em filas fartas. Para o trabalho, para a escola, para a praia, para o médico. E versa-vice. E quantas auroras e entardeceres roubados ao descanso e à família. E quanta ansiedade. E quanto dinheiro gasto a mais. E quantos mal-entendidos. Chega a ser trágico.
É nítido que os transportes públicos nos oferecem grandes ensejos. Quanto tempo ganho. Quanta tranquilidade adquirida na leitura de um livro. No escutar uma música. No perdermo-nos na paisagem. Antes da azáfama do trabalho ou depois dela. (Sim, o telemóvel é frenético. Impacienta-nos.) Permitem-nos estar entre outros, observá-los, pensar rostos, analisar atitudes. Quem sabe, trocar umas palavras, uns sorrisos. Um enriquecimento. Quem sabe encontrar quem há muito não vemos. Os transportes públicos são a sociedade. Rostos carregados como o carrego da vida. Alguns, poucos, em azuis flutuam.

A teia dos transportes públicos funcional deve ser para que cada vez mais seja usada por mais pessoas. Mas como? Quando, por exemplo, o único transporte público – por ser aberto a todos, mas é privado – não pratica quaisquer descontos, leva duas horas e pico para percorrer cerca de 80 km entre uma vila do interior e a capital e o último em ambos os sentidos é pelas 19,40h. Uma boa teia de transportes públicos é uma brecha aberta à liberdade. Para as pessoas e para o ambiente.
E senhor autarca será que, mesmo olhando para o lado, ainda não achou o ensejo para transportes públicos gratuitos para os seus residentes? Todos os merecem. E muito mais.
Ana Freitas