“A Biblioteca” é o título de um livro editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. O autor, Manuel Carvalho Coutinho, chama-lhes a “Segunda Casa”, descreve algumas dessas Instituições instaladas pelo país, e enumera pontos fracos e prontos fortes. Frontal, o escrito atesta o papel crucial da leitura. Remete-nos a tantos responsáveis dos municípios entregues à sua manutenção, em que um olhar de soslaio, irrefletido, por que desinteressado, dessas casas do conhecimento, revelam incúria e desprezo. Ora, como não dá votos, haverá tempo, ou melhor, ficará para as “calendas” a resolução dos problemas.
Como descreverei, no caso de Santarém, as duas bibliotecas locais: a Municipal, legado do ilustre Braamcamp Freire, e a Bernardo Santareno, a funcionar no que foi o Ginásio do Seminário, pertença da Diocese, a quem a edilidade paga a renda. Haverá um senhor Vereador, julgamos nós, que tem a seu cargo estas bibliotecas, não importa o nome, distraído no que ao cargo diz respeito: zelar por estas duas casas da cultura e do conhecimento. Esta despreocupação pelos livros, pelos funcionários, pelos utentes, é um desleixo imerecido a quem nelas trabalha e de quem dos livros, dos jornais e revistas, e do material informático se vai servindo.
Tomem nota: de inverno, chove a cântaros nas salas e o frio, atenua-se com uns aquecedores a óleo, mas não basta; de verão, o calor esbulha gotículas de suor, a lembrar as cavas à enxada.
Volto à Biblioteca Municipal, onde a invernia fez estragos, que aguardam resolução, pese às solicitações atempadas a quem de direito: um enorme cedro caiu sobre o telhado, e um outro ameaça, perigosamente, antevendo-se a sua queda a breve trecho. O jardim contíguo às traseiras é um matagal, o equipamento roça o obsoleto, o cheiro a mofo tresanda – basta entrar, olhar e sentir o desconforto!
Ressalta a riqueza do espólio em depósito, uns 200 mil livros só na Municipal. E ressalta a simpatia, o bom e profissional atendimento do pessoal e responsável por estas duas Instituições, as tais “Segundas Casas da Cultura”, que o são por direito próprio, em Santarém.
Arnaldo Vasques
Antropólogo / Temas Contemporâneos
Santarém merecia mais, a cultura tem sido esquecida pelos autarcas que nos têm governado durante muitos anos. Vejamos há quantos anos discutimos planos para o Campo Emílio Infante da Camara onde se planeava construir uma Biblioteca moderna em condições dignas de estudo,leitura,etc como em muitas vilas e cidades deste país. Entretanto,a única biblioteca que reunia algumas condições,bem situada no Jardim Sá da Bandeira e até premiada foi destruida porque a futura av. do Brasil assim obrigava (segundo alguns técnicos) e hoje confirma-se que não era necessário. E porque não falar da falta de museus que Santarém merece. Temos o que merecemos. Obrigado Arnaldo Vasques pelo teu artigo.