Em época de mães, falemos da terra.
Este lugar onde o nosso ser semente foi lançado com todas as condições para sermos fecundos, vivendo e parindo a essência anunciada a cada dia. A vocação de realizar Humanidade, transcender limites, exercer amorosamente a abundância de que somos feitos.
Amar, exaltar toda a criação que nos fez perfeitos no gesto, na voz, nos sentidos, capazes de continuidade como cocriadores.
Capacitados para tarefas variadas, intelectualmente validados, bem como fisicamente preparados em autonomia conveniente.
Desde há milénios em linha contínua de sucessão evolutiva, para o potencial de inteligência concreta completando coletivos, superando involuções marginais, aperfeiçoando desígnios.
Esqueçamos muito da realidade a que nos obrigaram os donos disto tudo, pesticidas, atentados à perfeição natural das matas/pulmão, as águas contaminadas, aos alimentos imitadores duma agricultura que se tornou indústria e comércio, planificada e amestrada à produção de lucro nem sempre legítimo.
Esqueçamos o que nos adoece, por carência e por abundância…
Olhemos a mãe terra como terna herança, gratificados porque constantemente se refaz apesar de nós.
Reconhecemos os elementos que nos permitem vida. Obrigada mãe que nos consentes ainda aqui, sobrevivendo, perdoando a nossa malvadez de fúria destruidora, com interesses ignorantes de futuro incerto…
Sublinha as atitudes dos mais esclarecidos, dos que se doem porque já não reconhecem o essencial da vida que nos foi facilitada.
O mergulho no consumismo arquitetado em poderes que um dia se mostrarão supérfluos à alegria de viver, quando o homem for apêndice utilizado tal e qual uma ferramenta usada, dispensável, objeto, sem presença nem dignidade, a ideia do Eden talvez renasça e converta a humanidade aos elementos primordiais …
Poderemos então respirar sem esforço, e até talvez consigamos não chorar ao nascer…
Manuela Marques