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Entrevista com Francisco Noras, realizador: “Um filme sobre a eutanásia, entre o drama e a comédia negra”

Expectativas para a estreia do filme no Festival Motel X

Francisco Noras, realizador natural de Santarém, prepara-se para a estreia da sua mais recente curta-metragem, “O Procedimento”, no Festival Motel X, que acontece em setembro de 2024. Esta será a terceira vez que o realizador vê um dos seus filmes selecionado para o prestigiado festival, dedicado ao cinema de terror e fantástico. “É sempre uma honra estar no Motel X. Para mim, este festival é como uma casa; é onde o meu trabalho encontra uma audiência que aprecia o cinema de género de uma forma mais artística e menos convencional”, afirma Francisco.

Veja aqui o vídeo da entrevista:

Ouça aqui a entrevista no podcast:

“O São Jorge é uma sala icónica, e a possibilidade de projetar o meu filme lá é um sonho realizado. As minhas expectativas são que o filme seja visto por uma audiência diversa e que provoque reflexão. O meu objetivo com ‘O Procedimento’ é que o público saia da sala a pensar sobre o que viu, questionando temas como a eutanásia e a mercantilização da vida”, acrescenta o realizador, demonstrando a profundidade das suas intenções artísticas.


O Processo Criativo e a Temática da Eutanásia

“O Procedimento” é uma obra que funde o drama com a comédia negra para abordar temas delicados, como a eutanásia, num contexto distópico. Francisco Noras explica que a escolha desta temática surgiu da sua vontade de explorar questões éticas e filosóficas que, embora sejam difíceis, são cada vez mais relevantes no nosso mundo. “Sempre me interessei por temas que, de certa forma, desafiam o status quo. A eutanásia é um assunto complexo, que levanta muitas questões morais e sociais. No entanto, em vez de abordar o tema de forma pesada e séria, optei por uma abordagem que mistura humor e terror, permitindo uma reflexão menos óbvia, mas igualmente profunda”, explica.

 

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O filme apresenta um futuro distópico onde a eutanásia é banalizada e transformada num serviço comercial, quase como se fosse um procedimento estético. “O humor é uma ferramenta poderosa para desconstruir tabus e tornar temas sensíveis mais acessíveis ao público. Ao misturar elementos de comédia com situações de terror, crio um contraste que, acredito, ajuda o espectador a ver a realidade por uma nova lente”, diz Francisco. “Não pretendo tomar partido ou impor uma visão. O cinema, para mim, é uma forma de questionar, não de responder.”


Rodagem em Santarém: Filmagem no Hospital foi um desafios 

Um dos aspectos mais marcantes de “O Procedimento” é o facto de ter sido integralmente filmado em Santarém, mais especificamente no Hospital Distrital da cidade. Francisco Noras fala com carinho da sua cidade natal e da importância de a incluir no seu trabalho. “Santarém tem sido um cenário recorrente nos meus filmes. Há algo de muito autêntico e genuíno na cidade que me atrai. Este filme, em particular, exigia um espaço que representasse um lugar de transição, e o hospital era perfeito para isso.”

Gravar num hospital em funcionamento trouxe desafios logísticos e emocionais. “Foi um processo extremamente complexo. Tivemos de respeitar todas as normas e regulamentos do hospital, ao mesmo tempo que geríamos uma equipa de 25 pessoas num ambiente sensível. Por outro lado, também foi uma experiência profundamente enriquecedora. Tivemos a oportunidade de interagir com profissionais de saúde, que nos deram uma visão única sobre a realidade da vida e da morte, o que, de certa forma, enriqueceu o próprio filme.”

Além dos desafios logísticos, houve também o desafio de capturar a essência de Santarém no filme. “Queria que o hospital fosse mais do que um cenário; queria que ele fosse uma personagem no filme. As cores, a arquitetura, até mesmo a energia do espaço, tudo contribui para o ambiente distópico que eu queria criar. Santarém tem um carácter muito próprio, que se encaixa perfeitamente na narrativa de ‘O Procedimento’.”


Apoios Locais e Financiamento

Francisco Noras sublinha a importância dos apoios locais na concretização de “O Procedimento”. “Este filme não teria sido possível sem o apoio da Câmara Municipal de Santarém e da União de Freguesias de Santarém. Além disso, tivemos um financiamento do ICA, que foi crucial na fase de finalização. É gratificante ver que há um reconhecimento do valor do cinema regional e que entidades locais estão dispostas a apoiar projetos culturais que promovem a cidade e a região.”

O realizador destaca ainda o papel das instituições de Santarém na promoção da cultura e das artes. “Santarém tem um potencial enorme para ser um centro de produção cultural. O apoio que recebi para este filme é um exemplo de como a cidade pode abraçar o cinema e as artes como parte integrante da sua identidade. Espero que este filme seja apenas o começo de uma colaboração contínua entre os artistas locais e as instituições.”


Projetos Futuros: Um Olhar sobre o Ribatejo

Para além de “O Procedimento”, Francisco Noras já tem em mente o seu próximo projeto, que promete continuar a explorar temas relevantes com um enfoque particular na região do Ribatejo. “Estou a trabalhar num novo filme, que será também rodado em Santarém. Este projeto será uma longa-metragem, onde pretendo explorar mais a fundo as tradições e a identidade ribatejana, mas sempre com o meu toque de surrealismo e humor negro.”

O novo filme, ainda sem título oficial, vai centrar-se nas tradições ribatejanas e na forma como estas coexistem com a modernidade. “O Ribatejo é uma região rica em tradições e história, mas também enfrenta desafios modernos. Quero explorar este choque entre o velho e o novo, entre o tradicional e o contemporâneo, e como estas dinâmicas influenciam a identidade das pessoas que aqui vivem. Tal como em ‘O Procedimento’, o humor e a comédia negra serão elementos chave para contar esta história.”

Francisco revela que a pré-produção do filme deverá começar no início de 2025 e que espera começar as filmagens em meados do próximo ano. “Estou muito entusiasmado com este novo projeto. Tenho a certeza de que será mais um desafio, mas também mais uma oportunidade para mostrar o que Santarém e o Ribatejo têm para oferecer ao mundo do cinema.”

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