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É preciso outra atitude de cidadania perante a poluição dos nossos rios

Continua a desfaçatez e a impunidade dos poluidores, nos rios e ribeiras nacionais. Este surto de poluição no rio Almonda é mais um caso grave de poluição e saúde ambiental, nos afluentes do Tejo.
Aqueles que poluem não querem saber do mal que fazem, e alguns destes crimes só são notados quando a extensão dos danos é visível, como foi o caso. Se identificados e incriminados, raramente as condenações são conhecidas.
Continuamos a permitir que isto aconteça e infelizmente, em Portugal, a acção dos cidadãos, através de comportamentos sistemáticos, perseverantes, pela defesa da nossa casa comum – seja ao nível da nossa terra, seja ao nível regional, nacional ou global – continua a ser diminuta, desorganizada, ineficaz. Há evidências, mas, contra elas, há lamentos.
Por exemplo, o rio Maior / canal de Azambuja, poluído há dezenas de anos, assim continua. Um curso de água ao longo do qual poderia até haver uma ecovia, praticamente da nascente à foz (em Azambuja) é afinal um esgoto, das suiniculturas e de fábricas de tomate, sobretudo, é o que ao longo dos tempos tem sido denunciado. Quatro câmaras municipais (Rio Maior, Santarém, Cartaxo e Azambuja) são as que este afluente do Tejo abrange, no seu percurso. Há uns anos, as câmaras fizeram uma sessão pública, em Santarém, sobre a questão da poluição provocada pelas suiniculturas, que também estiveram representadas. Ouviram-se promessas, que foram trazidas para a comunicação social. Quais os resultados, da intenção de mudança afirmada nessa sessão?
É preciso outra atitude de cidadania. É preciso outra dinâmica e organização no movimento associativo ecologista. E é preciso também ganhar a juventude para este objectivo: se o passado mais ou menos recente, e o presente, nos mostram estes crimes ambientais, a juventude tem de ser activa, participativa, acautelando o seu próprio futuro, o dos seus filhos e do planeta.
A poluição, como as alterações climáticas, nas quais o ser humano é, em sentido lato, o agente causador, só podem ser eficazmente combatidas se houver um acréscimo substancial de consciência e de açção cívica, neste sentido, por parte dos cidadãos, pois a realidade mostra que os poderes, a todos os níveis, acabam por não ser activos e consequentes perante as acções maléficas dos que poluem os rios, mares, oceanos, os solos, o ar.
Algo de novo é preciso, para que isto não continue.

Manuel Sá

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2 comentários

  1. Grosso modo, estou de acordo com o Manuel Sá, mas, a observação e a reflexão sobre a realidade, assim como a experiência e o saber adquirido ao longo da vida, leva-me a uma outra abordagem…

    A mortandade agora verificada no rio Almonda é inerente ao modelo económico-financeiro, produtivo, social e cultural, ancorado na ideologia hegemónica que é imposta, pela classe social detentora do poder, “senhores do mundo / mandadores sem lei”, às comunidades humanas…

    Obviamente, os seus servidores nunca sabem a causa, a origem do crime (ecocídio), nem identificam o criminoso, e, quando é impossível “fingir” que não sabem a identidade do criminoso, não acontece nada, ou, são-lhe aplicadas umas coimas irrisórias e a actividade criminosa pode continuar, de preferência, com menos arrogância, isto é, sem dar tanto nas vistas…

    Vejamos a situação do rio Maior/vala real/canal de Azambuja – é um rio com várias designações -: começou a ser poluído/destruído, de forma visível na década de 50 do século XX, numa extensão considerável, com inicio na então Vila de Rio Maior. Em 1965, com a entrada em funcionamento da fábrica de tomate, situada em S. João da Ribeira, foi uma mortandade absoluta (peixes, enguias, galinhas de água, etc.) desde a referida localidade até à foz (Azambuja)…

    Desde então, a situação agravou-se com a introdução de outras indústrias, a agricultura e a pecuária – ambas tóxicas e intensivas – em particular, a produção intensiva de porcos em recinto fechado, de grandes dimensões, porque as produções familiares foram levadas à falência, dado as regras a cumprirem e a fiscalização permanente e rigorosa. Estas só se aplicam aos pequenos produtores, os grandes estão isentos…

    Enquanto os pequenos produtores tinham que ter fossa séptica e campos para agricultura suficientes para escoar as águas residuais (“chorume”), os grandes, basta-lhes mandar abrir uns buracos no chão e enche-los com as águas residuais produzidas por milhares de porcos (excrementos, urinas, águas de lavagem, etc.). Estes cheios, vai de descarregar para as linhas de água e terrenos próprios ou alheios, poluindo e contaminando ambos.

    Poluem as massas de água superficiais e subterrâneas, assim como os solos e o ar, tornando-o irrespirável e doentio, com os gases emitidos, inclusive, o metano e, indirectamente, o dióxido de carbono, ambos gases de efeito de estufa que estão a provocar as alterações climáticas, visíveis, para todas as pessoas que se recusem a negar a realidade.

    Obviamente, a cidadania activa, organizada, unida e determinada pode alterar todo este sistema podre, corrupto, hipócrita e criminoso, como a história nos demonstra e a experiência nos prova.

    Retomando a abordagem do Manuel Sá, em particular, quanto à iniciativa pública organizada em Santarém, em que participaram os executivos das quatro Câmaras (Azambuja, Santarém, Cartaxo e Rio Maior) e suinicultores, assim como o grupo de trabalho constituído pelas entidades referidas acima, resultaram da pressão feita pelas pessoas e as organizações ecologistas, cívicas e ambientais (Eco-Cartaxo, Movimento Ecologista – Vale de Santarém, Movimento Cívico Ar Puro – Rio Maior, No Coração da Cidade – Santarém, proTEJO – Movimento pelo TEJO) que se juntaram e, em conjunto, organizaram acções e iniciativas várias em que participaram centenas de pessoas.

    Este trabalho conjunto e coordenado conseguiu ganhar pessoas, mudar o discurso das entidades oficiais, por exemplo, até então, o discurso do executivo camarário de Rio Maior era: “os maus cheiros é sinónimo de riqueza e desenvolvimento do concelho”; passou para: “vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para resolver a situação e implementar a sustentabilidade, a economia verde, blá,blá… Mas, no essencial, a situação continua a agravar-se.

    Por isso, é urgente e imperioso retomar o trabalho conjunto, coordenar e delinear estratégias, aprender com os erros cometidos, ganhar pessoas, para tomarem em mãos o resgatar do presente e construir futuro. Se ficarmos à espera que os criminosos e seus serviçais invertam a situação, vamos ser cúmplices da catástrofe que o capital está a impor a toda a humanidade.

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