Ricardo Gonçalves despediu-se da Câmara Municipal de Santarém após 18 anos de trabalho no Executivo, numa sessão marcada pela emotividade e também pela polémica.
Ricardo Gonçalves, com a voz embargada, recordou que já participou em mais de 540 reuniões do Executivo Municipal durante 18 anos de vida autárquica entre presidente da Câmara e vereador.
Ricardo Gonçalves assume presidência do IPDJ no dia 9 de setembro
Nesta reunião em que foi aprovado o seu pedido de suspensão do mandato, Ricardo Gonçalves fez saber que já aceitou a nomeação de presidente do IPDJ – Instituto Português do Desporto e da Juventude, e irá assumir o cargo no dia 9 de setembro.
Ricardo Gonçalves disse ter decidido aceitar este desafio nacional e agradeceu a todos os vereadores, ao elementos do Gabinete de Apoio da Presidência, aos trabalhadores do município, das empresas municipais Viver Santarém, das juntas de freguesia, muitos deles presentes nesta reunião marcada por muita emoção.
Ricardo Gonçalves disse ter sido “um privilégio da sua vida dirigir esta Câmara Municipal de Santarém. Foi o maior privilégio que me deram”, disse.
O seu foco foi deixar melhor do que encontrou a Câmara. No entanto, referiu que não ter feito nada sozinho, deixando um agradecimento a todos os que o apoiaram e que trabalharam com ele neste caminho.
Após esta intervenção, Ricardo Gonçalves recebeu uma ovação de pé dos vereadores do PSD e PS, funcionários e presidentes de juntas e freguesia que não couberam todos na sala de reuniões. A exceção foi o vereador do Chega, Pedro Frazão, que não só não aplaudiu como fez uma intervenção polémica, hostilizando os vereadores do PSD e PS e a assistência que considerou serem uma “corte”.
Vereador do Chega defende que a Câmara devia cair com a saída do presidente
“Se foi com o maior privilégio que Ricardo Gonçalves presidiu à Câmara Municipal, não se percebe porque é que a vai abandonar”, afirmou o vereador do Chega. Referiu que Ricardo Gonçalves é presidente da Câmara desde 2015 e nos últimos três anos com o apoio do Partido Socialista. Por isso, considera natural que todos o aplaudam nesta despedida.
No entanto, Pedro Frazão afirma ser frontal e não aplaudiu, porque considera que a ida de Ricardo Gonçalves para a presidência do Instituto Português da Juventude e do Desporto é uma traição ao Município de Santarém. Recordou que já Moita Flores usou a mesma técnica para deixar o seu sucessor no poder, no caso foi o próprio Ricardo Gonçalves. Agora, desta vez, Ricardo Gonçalves deixa a presidência a João Teixeira Leite.
Desta forma, Pedro Frazão considera que Ricardo Gonçalves se serviu da Câmara Municipal de Santarém como um estribo para um cargo nacional. Pedro Frazão referiu que o antecessor de Ricardo Gonçalves no Instituto Português da Juventude e do Desporto era licenciado em desporto e tinha formação especializada nesta área. “Não sei se tem credenciais idênticas para desempenhar o cargo”, afirmou.
Pedro Frazão critica gestão da Câmara
Pedro Frazão deixou ainda fortes críticas à gestão do PSD na Câmara de Santarém, acusando o abuso dos ajustes diretos. Considera mesmo que “a Câmara devia cair hoje com a saída do presidente”.
Criticou o facto de Ricardo Gonçalves suspender o mandato, mas, na prática, não irá voltar à Câmara, o que se traduz, de facto, numa renúncia, que não é efetivada.
Esta já é a quarta substituição do PSD na Câmara este ano
Recorda que nestes três anos já foram quatro os eleitos do PSD substituídos na Câmara Municipal. Recordou que Inês Barroso serviu-se do estribo da Câmara para entrar na política nacional e optou pelo cargo de deputada na Assembleia da República. Depois foi o vereador Diogo Gomes que teve de renunciar ao cargo devido ao escândalo do skate parque onde o horário público foi lesado em cerca de 75 mil euros, com um ajuste direto celebrado com um amigo do PSD. Entretanto, também a vfereadora Carmen Santos decidiu abandonar a Câmara em rota de colisão com os restantes elementos do executivo.
Pedro Frazão deixou uma apreciação extremamente negativa da gestão do Município pelo PSD, com o apoio do Partido Socialista. Criticou em primeiro lugar o processo do Mercado Municipal de Santarém, que continua fechado e sem indicação de uma data para a sua abertura, uma obra que considera que é faraónica e que não está ainda a ser utilizada em benefício do município. Afirma que a situação do Centro Histórico de Santarém está cada vez pior, as lojas continuam a fechar, o plano de salvaguarda continua por fazer. Quanto ao PDM, já na sua terceira revisão, continua em banho-maria.
Criticou a promessa de um parque tecnológico que nunca foi concretizado e que foi até descartado do PRR.
Abordou a polémica da fusão dos bombeiros em Santarém. Pedro Frazão citou uma notícia da imprensa local em que o presidente da Concelhia do PS e presidente da Direção dos Bombeiros Voluntários defende a extinção dos Bombeiros Sapadores e a sua fusão com os Voluntários de Santarém.
Criticou o problema da Habispark, a empresa que explora o estacionamento tarifado na cidade de Santarém, e cujo diferendo está a lesar os cofres do Município em dezenas de milhões de euros ano após ano, sem que exista uma solução para o problema.
Referiu a situação da antiga Escola Prática de Cavalaria, que continua sem um plano diretor para sua ocupação e requalificação.
De igual modo critica a situação do Campo Infante da Câmara que continua sem qualquer requalificação, apesar dos planos e promessas ao longo dos anos.
Nuno Domingos acusa Frazão de falta de respeito
Depois desta bateria de críticas, talvez para para desanuviar a sessão, o vereador Nuno Domingos aludiu à teatralidade do dramatismo da intervenção de Pedro Frazão, o que motivou uma acesa discussão, acabando por ser chamado de “sonso” por Pedro Frazão.
Falando por cima de Nuno Domingos, Pedro Frazão alegou a defesa da sua honra, garantindo que não faz teatro, e atacando o PS por “pôr a pata no mundo cultural, usando o controlo do mundo da cultura com intuitos políticos”.
Na resposta, Nuno Domingos disse que não é afiliado em nenhum partido, ao contrário do que o vereador do Chega tinha afirmado. “Chamar sonso e usar a linguagem de pôr a pata é uma falta de respeito pelos outros”, disse.
Sublinhou que este é o primeiro cargo político que ocupa, tendo sido técnico da Câmara Municipal de Santarém e também do Município de Évora, ao longo de todos os anos da sua vida profissional.
Ricardo Gonçalves: “Educação e respeito são fundamentais para nós”
Por seu lado, Ricardo Gonçalves referiu que Pedro Frazão recorre à técnica muito utilizada pelo partido do Chega de usar os ataques pessoais e falar em cima dos outros. “Para nós, a educação e o respeito são fundamentais”, disse.
A talhe de foice, o vereador do PS, Nuno Russo, afirmou que esta intervenção de Pedro Frazão justifica a razão por que o presidente Ricardo Gonçalves preferiu fazer um acordo com os vereadores do Partido Socialista na Câmara de Santarém, e não com Pedro Frazão.
Nuno Russo sublinhou que o memorando de entendimento para a gestão da Câmara tem sido muito produtivo para o Concelho de Santarém, permitindo que todos trabalhem para o mesmo propósito. Em relação às críticas, afirmou que estará cá para prestar contas no final do mandato.
Manuel Afonso: “Nem o Chega se revê em Pedro Frazão”
Por seu turno, o vereador do PS, Manuel Afonso, devolveu as críticas a Pedro Frazão, considerando que é uma desconsideração para a Câmara e para os munícipes que o elegeram que o vereador do Chega não se faça substituir sempre que, como deputado da Assembleia da República, não pode vir às reuniões da Câmara Municipal de Santarém. “Pedro Frazão não encontra quem o substitua na estrutura local do partido, porque está isolado, não tem relações com o partido em Santarém, devido às profundas divergências com a Concelhia do seu partido e com os militantes do Concelho.
Palavras de apoio e estímulo dos vereadores do PSD e PS
Nesta sessão, Ricardo Gonçalves contou ainda com palavras de apoio e de estímulo de Alfredo Amante, vereador do PSD, que deixou uma palavra de admiração pelo trabalho do presidente Ricardo Gonçalves, destacando a sua competência, profissionalismo e sentido ético e que vai dar agora o trabalhar num outro campo de ação na área do desporto para o país a nível nacional.
Por seu turno, o vereador do PSD, João Teixeira Leite, que agora substitui Ricardo Gonçalves na Presidência da Câmara, considerou a intervenção de Pedro Frazão um conjunto de disparates. Citou a presidente da Concelhia do Chega, – coisa que nunca pensou fazer na vida, disse – quando ela afirma que Pedro Frazão é um vereador ausente, não conhece a realidade de Santarém, e por isso não se revê na representação do vereador Pedro Frazão.
João Teixeira Leite recordou os momentos difíceis por que passou com o presidente Ricardo Gonçalves na Câmara de Santarém, desde o período de recuperação da Troika, passando pela crise da pandemia. Sublinhou o rigor na gestão pública de Ricardo Gonçalves e o trabalho que realizou para voltar a equilibrar as contas da Câmara. Construímos novas escolas, recuperámos muitas escolas, requalificaram o Museu de São João de Alporão, a Torre das Cabaças, entre um conjunto significativo de investimentos públicos nas freguesias, como nunca se tinha feito antes, disse.
João Leite com os “pés assentes na terra” na hora de assumir a prwesidência da Câmara
Ao assumir a presidência da Câmara, João Teixeira Leite disse não estar eufórico, mas sim com os pés bem assentes na terra e tudo fará para honrar o trabalho que herda na Câmara. Quanto ao acordo de entendimento com o Partido Socialista, João Teixeira Leite referiu que colocar Santarém acima dos nossos interesses justifica este acordo de governação com o Partido Socialista.
No balanço como presidente da Câmara, Ricardo Gonçalves referiu que a sua entrega foi total. Pagámos a dívida enorme que a Câmara tinha, passámos pelo período da pandemia e depois conseguimos recuperar e não fizemos mais porque não foi possível. Com um currículo mais desportivo ou mais de gestão, a minha preocupação é fazer melhor no Instituto Português da Juventude, respondeu.
Sobre o facto do Pedro Frazão não o ter aplaudido, juntamente com todos os outros vereadores da Câmara Municipal, Ricardo Gonçalves considerou que o silêncio de Pedro Frazão foi para si um aplauso.
No final da sessão da Câmara, foram todos convidados para provar um vinho branco de uivas tintas da Quinta da Ribeirinha. Mais uma iniciativa do programa Capital do Vinho 2024, que proporcionou um brinde à despedida de Ricardo Gonçalves e ao seu sucesso na diração do IPDJ.