Isso não interessa nada! — a frase foi-me atirada por Tereza Guilherme há milénios, num programa que ela conduzia chamado “Eterno Feminino”, onde eu ia ser entrevistado sobre um romance que publicara. Ela tinha umas fichas preparadas com as perguntas e, presumo, com as respostas esperadas. Ia eu a falar sobre um assunto a propósito do qual a produção lhe dera a minha resposta e diz-me a Tereza com o desembaraço que lhe é conhecido: Isso agora não interessa nada. O que interessa é saber porque devem as pessoas comprar o seu romance.
Tinha toda a razão a Tereza Guilherme. Eu é que era um ingénuo que ia falar de enredos e personagens. O que interessa é o mercado, o negócio. Eu estava ali para vender um livro, deixemo-nos de tretas.
Quanto à discussão sobre o orçamento geral do Estado — do aprova não aprova, quem aprova e o quê, sobe um escalão do IRS e descem dois do IRC, há descontos para reformados e militares sem graduação, desce a tributação sobre a cerveja sem álcool ou sobe a do tremoço, alugam-se quartos a estudantes em antigos conventos de frades e freiras, quartéis e outras serventias. É música de adormecer. Tretas. O orçamento não interessa nada. O que interessa são os negócios entregues a dois ministros que, por acaso, têm um aspeto sinistro. A ministra da saúde e o ministro das obras públicas. Eles têm nomes, mas eu deixo aqui as fotos.
O que interessa neste governo são os negócios de milhões: o das grandes obras, aeroporto, acessos e TGV — negócios a cargo do ministro das obras públicas; o outro grande negócio é o do fim do Serviço Nacional de Saúde e a passagem do negócio para os grupos privados, a cargo da ministra que anda sempre de trombas. O que interessa é a caça grossa e não o milho para pardais.
O que está em jogo, o que interessa é muito simples: quem vai ao pote agora e só se saberá daqui a vinte anos! Ou se apoia que seja o atual grupo, que já tem prática, com as PPP da saúde, a degradação planeada e executada do SNS, que tem os rostos do anterior bastonário dos médicos e da enfermeira que fazia agitprop na anterior legislatura, mais o atual ministro das obras públicas que era secretário de Passos Coelho e que já esteve no negócio da TAP (um pequeno negócio comparado com o que está hoje em jogo), ou se vai para eleições para os portugueses decidirem claramente quem pretendem a gerir os grandes negócios e com que controlo, o que passa também pela escolha do próximo/a Procurador Geral da República, que o atual governo quer que seja um idiota útil.
Os dois únicos ministros que contam são aquele que domina as obras públicas .“os dinheiros de Bruxelas”, e aquela que domina o negócio da saúde privada. A seu tempo virá a importância do ministro que vai privatizar a segurança social e vender planos de poupança de fundos abutres americanos. Neste casino, o ministro das finanças é apenas um manga de alpaca ou o que designava por “guarda-livros” com a função de explicar as artes performativas dos negócios com a clareza de um peixe dentro de um aquário!
Em tempo: é decisivo perguntar quem está a pagar a campanha de manipulação conduzida por grupos interessados nos negócios agora tão preocupados com a estabilidade, o compromisso, vamos lá que os totós dos portugueses estão quase a chegar ao Natal e querem o subsídio e o peru e a mensagem do senhor Presidente, do Senhor Primeiro-ministro, do senhor Cardeal patriarca.
Por fim: Eleições são indispensáveis para nos entendermos. A estabilidade invocada pelo Presidente da República e pelos os seus cães amestrados são dados viciados que apenas servem os abutres.
Carlos Matos Gomes