Ana Rita Costa Silva, natural de Santarém, é uma das brilhantes cientistas da atualidade no campo da astrofísica. Investigadora no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, lidera uma equipa internacional que tem feito descobertas inovadoras sobre exoplanetas — planetas fora do sistema solar. Recentemente, a sua equipa publicou um artigo científico na prestigiada revista Astronomy and Astrophysics, trazendo novas luzes sobre o clima extremo de um exoplaneta conhecido como WASP-76b, onde ventos carregados de ferro dominam a atmosfera.
Nesta entrevista exclusiva ao Mais Ribatejo, Ana Rita fala sobre as suas origens em Santarém, as implicações das suas descobertas e o futuro da exploração espacial. Esta é uma leitura imperdível para todos os curiosos sobre o espaço e o papel crescente de Portugal na ciência mundial.
Mais Ribatejo: Ana Rita, é um orgulho para Santarém tê-la como uma das principais investigadoras em astrofísica. Como foi crescer em Santarém e o que a inspirou a seguir uma carreira na ciência e astronomia?
Ana Rita Costa Silva: Crescer em Santarém foi uma experiência tranquila, mas, como pode imaginar, não havia muitas oportunidades locais para explorar o interesse pela ciência. Felizmente, os meus pais sempre foram proativos em incentivar a curiosidade. Levaram-me várias vezes ao Centro de Ciência Viva de Constância e ao Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, o que me ajudou a despertar para a ciência, em especial para a astronomia. No liceu, percebi que queria mesmo seguir uma carreira científica, e assim fiz.
A Descoberta do Exoplaneta WASP-76b: Ventos de Ferro e Chuva Metálica
Mais Ribatejo: A sua equipa fez uma descoberta impressionante sobre o exoplaneta WASP-76b, com a deteção de ventos de ferro na sua atmosfera. Pode explicar um pouco mais sobre este fenómeno?
Ana Rita Costa Silva: WASP-76b é um exoplaneta gigante gasoso, semelhante a Júpiter, mas muito mais quente, com temperaturas que ultrapassam os 2000°C. A investigação revelou ventos extremamente fortes na atmosfera deste planeta, carregados com partículas de ferro. Quando o planeta gira para o lado mais frio, o ferro pode condensar e, hipoteticamente, chover na forma de metal líquido. Embora ainda estejamos a investigar esta possibilidade, os dados são fascinantes.
O Papel de Portugal na Exploração dos Exoplanetas
Mais Ribatejo: Como vê o papel de Portugal, e da sua equipa, na investigação e exploração dos exoplanetas?
Ana Rita Costa Silva: Portugal tem-se destacado cada vez mais em projetos internacionais de astrofísica, especialmente na última década. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço tem uma presença sólida em várias missões, como o PLATO e o ARIEL, que têm como objetivo descobrir e caracterizar exoplanetas. Estamos também envolvidos no desenvolvimento de instrumentos de ponta, como o espectrógrafo ESPRESSO, que nos permite estudar a composição das atmosferas destes planetas. É um orgulho poder representar Portugal e contribuir para a ciência global.
Destaques da Entrevista
- “Chuva de Ferro num Exoplaneta”: A equipa de Ana Rita Costa Silva descobriu ventos carregados de ferro em WASP-76b, um exoplaneta onde poderá chover metal.
- “Portugal em Missões Espaciais”: Investigadores portugueses participam em projetos globais de astrofísica, como o PLATO e o ARIEL.
- “Ciência de Santarém para o Mundo”: Ana Rita conta como a sua educação em Santarém a inspirou a seguir o caminho da ciência.