A homenagem a José Raimundo, antifascista e antigo presidente da Sociedade Recreativa Operária (SRO) de Santarém, teve lugar no passado dia 26 de outubro, enchendo o salão da coletividade centenária. O evento celebrou o centenário de José Raimundo, que, enquanto defensor da liberdade, marcou a resistência à ditadura em Santarém e influenciou gerações. Familiares, amigos e representantes locais prestaram tributo ao legado de um homem que simboliza a luta pela democracia e justiça social.
Veja aqui os vídeos das intervenções dos participantes na homenagem:
Ana Raimundo, filha do homenageado, abriu as intervenções com palavras de gratidão. Em nome da família, expressou o reconhecimento a todos os presentes, incluindo os amigos e companheiros de luta do pai, e agradeceu ao município e à SRO pela realização da cerimónia. Ana partilhou ainda memórias do convívio familiar e das histórias que continuam a inspirar as novas gerações, descrevendo o pai como um defensor incansável dos valores de liberdade e fraternidade, mesmo três décadas após sua morte.
Luísa Mesquita, ex-deputada e autarca, sobrinha de José Raimundo, destacou a importância da memória histórica para a construção da democracia. Na sua intervenção, registou os tempos de resistência e as dificuldades enfrentadas pelos opositores do regime, sublinhando que a história e o conhecimento são pilares fundamentais na defesa dos valores democráticos. Enfatizou o papel do tio como um educador informal, um “professor sem diploma” que moldou muitos jovens através da partilha de livros e histórias que desafiavam a ordem estabelecida.
João Luís Madeira Lopes, antigo companheiro de resistência, fez uma emotiva alusão à coragem e perseverança de José Raimundo. Madeira Lopes relembrou a trajetória de Raimundo enquanto líder da oposição democrática em Santarém, nomeadamente o comício que presidiu em 1973, e o seu papel determinante na organização sindical e no associativismo cultural da cidade. A sua ação permitiu a criação de espaços de encontro democráticos, mantendo viva a chama da liberdade em tempos de repressão.
Representando o município, Nuno Domingos, vereador da Câmara Municipal de Santarém , destacou a privilégio de poder registrar figuras como José Raimundo, que, com “pequenos gestos e grandes convicções,” mudou o rumo da sociedade. Domingos entregou uma placa de homenagem à família, em nome do município, sublinhando o reconhecimento a José Raimundo como um exemplo de luta e resiliência, que contribuiu e continua a inspirar.
Amigos e antigos companheiros de luta, entre os quais Jaime Fernandes falaram do homenageado e fizeram uma reflexão sobre a atualidade e o ressurgimento de movimentos de inspiração fascista. Salientamos que a memória de José Raimundo deve servir como um alerta para os perigos contemporâneos e como um incentivo para a resistência contínua contra as opressões.
O evento incluiu também momentos culturais: Graça Simas, Margarida Loureiro e Pedro Oliveira declamaram poesia, e João Nogueira brindou os presentes com música ao vivo, encerrando a cerimónia com Maria Leonor Fonseca. No final, uma placa evocativa foi inaugurada nas instalações da SRO, perpetuando a memória de José Raimundo na cidade que tanto amou.
A homenagem foi encerrada com uma salva de palmas em honra do homenageado e a todos aqueles que, como ele, dedicaram a vida à liberdade.
Vídeos de David Teles e Miguel Alfaiate com edição de João Baptista.
Esta homenagem contribuiu para dar a conhecer a luta travada durante a ditadura fascista e que levou ao seu derrube.
Assim como realçou que a luta pela liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade e justiça social é continua e tem que ser persistente, caso contrário, como a realidade nos prova e demonstra, os retrocessos são demolidores e as conquistas obtidas são-nos sonegadas.
José Raimundo, como as milhares de pessoas que lutaram pelo derrube da ditadura fascista/colonialista, visava derrubar a ditadura e criar as condições necessárias à transformação social, económica, produtiva e cultural, com vista à construção de uma comunidade humana universal, livre, solidária, fraterna e igualitária. Isto é, entre iguais e a justiça fosse lei.
Como a situação social, económica, produtiva, cultural e de justiça, em todas as suas dimensões, que estamos a viver se encontra nos antípodas daquela pelo qual José Raimundo, e milhões de pessoas, se bateram e visavam construir…
Perante as acentuadas discriminações e as crescentes desigualdades e injustiças sociais, climáticas, económicas, produtivas e culturais, a melhor homenagem que lhe podemos fazer é dar continuidade ao seu legado: informar, divulgar o conhecimento cientifico, a literatura, as artes, a cultura, em todas as suas dimensões, assim como juntar forças e vontades para unir e coordenar a resistência e as lutas em defesa da justiça social, climática, económica, produtiva e cultural.