Morreu Lourdes Pedro! Foi no fim do passado mês de setembro.
Provavelmente este nome pouco dirá à maior parte de vós. Se lhes disser que era a mulher de Edmundo Pedro, talvez já alguns tenham a noção de quem se trata. Mas não muitos ainda, certamente.
Saíu desta vida com quase 100 anos, mantendo sempre uma completa lucidez. Até nisso acompanhou o marido que nos deixou aos 99 anos, em 2018, também perfeito de cabeça e com uma memória brilhante. E digo até nisso, porque ela viveu 63 anos com este homem, acompanhou-o e motivou-o na sua constantemente atribulada vida. Foi o seu pilar…
Assistiu sempre o marido quando esteve preso e foi torturado pela PIDE, encobriu-o, andou fugida, sem sustento teve de continuar a pagar despesas, salários e rendas e a pôr comida na mesa. Passou muitas vezes fome, de não ter nada mesmo para comer, mas quando o Edmundo saía da prisão não devia nada a ninguém.
Tive o privilégio de conhecer Lourdes Pedro e de privar com ela em um ou outro almoço na casa deles na margem sul, em amena cavaqueira e convívio em que também estavam outros dois bons amigos: o Luís Osório e o Fernando Faria, este último também já falecido.
Um exemplo de alguém que, ainda que sempre na sombra, foi um enorme ser humano! Gente de uma índole que já pouco se fabrica… Posso dizer dela, sem qualquer favor, o que disse do marido aquando do seu falecimento: gente desta fibra não morre, deixa só de estar presencialmente connosco.
Felizmente a história de Lourdes Pedro – o muito que “lhe ficou para sempre gravado na memória” – ficou escrita em livro de 2023 da autoria de Amílcar Faustino.
Francisco Mendes