O escritor Manuel Fernandes Vicente apresenta no próximo domingo, no feriado do Primeiro de Dezembro, pelas 16 horas, no Cineteatro São João do Entroncamento, o seu primeiro livro de contos – Contos de um Futuro Antigo – uma obra com o selo das Edições Vieira da Silva.
O livro contém 75 narrativas, a maioria delas breves histórias entre o realismo mais urbano e moderno, contos com origem em lendas tradicionais de vários partes do mundo para chegarem ao futuro, estórias de um realismo mágico ou puras narrativas de ficção tecnológica e futurista alicerçadas nas mais arcaicas e bisonhas marcas e convicções do ser humano. E é nesta diversidade e contraste de narrativas ⎼ a maioria narrativas breves e focadas ⎼ que o livro acaba por obter a sua própria coesão e unidade. Todos os contos, e para lá da história que sugerem, contam ainda com desenhos de 18 artistas convidados, amigos e colegas do autor, uns amadores puros e talentosos, outros profissionais reconhecidos e afirmados na área da ilustração e do desenho que, com as suas interpretações subjetivas e gráficas, estilisticamente muito diferentes entre si, em muito enriquecem o livro.
“Na correnteza dos contos vão desfilando amores e ódios, generosidades e avarezas, opulências e misérias, porque de tudo isto são feitas a alma humana e as relações entre as pessoas. E com frequência, como é próprio do conto, que também com esse propósito foi inventado, Manuel Vicente deixa entrever uma mensagem, uma conclusão a retirar da história, uma lição de moral como ensinamento para a vida”, escreve, no prefácio, o historiador António Matias Coelho, que será também um dos apresentadores da obra no próximo domingo.
Da análise de uma das histórias acrescenta António Matias Coelho: “N’A Mineralogista, diz o bisavô à pequena Nadir que a verdadeira riqueza é ‘aquilo que nós podemos desfrutar com os sentidos, e as experiências que nos oferecem, abrem a nossa mente, e isso é uma coisa que nunca se gasta’. Segundo o ancião, também o conhecimento e a sabedoria se podem infinitamente multiplicar, se se fizerem mais e mais perguntas, mas isso implica ‘humildade, desapego, bondade, meditação e muitas provas´”. E conclui o historiador: “Para além de nos permitir sonhar, o conto, quando bem contado, pode também pôr-nos a pensar e a refletir sobre nós, sobre a vida, sobre o mundo”.
Nos contos, que o autor faz decorrer tanto no Ribatejo, como nas Beiras, no Alentejo, em Trás-os-Montes, em Espanha, na América Latina, nos Estados Unidos, na Rússia, no remoto Japão ou em países e ilhas apenas imaginados para poderem dar um abrigo e um ambiente adequado às suas narrativas, os seus personagens, que são sobretudo pessoas como nós (mas também enigmáticos robots que dão que pensar) fazem-nos pensar em nós próprios. Talvez sejam os nossos próprios alter egos. Com as nossas grandezas e misérias, os nossos altruísmos, mas também egoísmos. Como em nós, há neles ouro e pechisbeque, e também como em nós há neles o Antigo (que nos marca indelevelmente com o primitivo) e o Futuro, que gostaríamos de, conscientemente, tornar melhor, mas parece estar preso a muitas âncoras jurássicas. São assim, com as suas ironias, e um humor por vezes apenas suposto e alguma sátira, os contos de Manuel Fernandes Vicente.
Dividido por capítulos autónomos, como Alquimias, Andantes e Andarilhos, Distopias, Proscritos e Robots e Tecnologias, Contos de um Futuro Antigo apresenta episódios mais realistas ou fictícios, como “O Meteorologista”, “O lápis mágico”, “O tempero de La Bamba”, “O Ritual”, “Marcelete falsete, já não és major!” ou “A abominável história do corcunda Gargana”, onde a ironia e a excentricidade coabitam com a surpresa e a proximidade dos personagens da ficção.
Manuel Fernandes Vicente é raiano, nasceu em Castelo Branco, estudou em Coimbra e vive no Entroncamento, onde foi professor de Matemática e de Ciências Físico-Químicas durante cerca de quatro décadas, correspondente nacional do jornal Público e colaborador do jornal musical Blitz. Continua a sonhar em viver algumas temporadas em San Francisco, algures nos Andes, em Katmandu, e até talvez ainda numas águas furtadas de Paris para, apesar dos preços, poder por fim cumprir umas vontades idealizadas, mas adiadas.
Colabora atualmente na revista Abarca e no Entroncamentoonline. Neste livro, o seu oitavo, apostou na ficção e na liberdade de escrita proporcionada pelo conto, que deseja que não seja uma lavandaria de ideologias e ismos, mas mostra também a sua aversão inata ao politicamente correto, previsível ou conveniente.