Cerca de meia centena de trabalhadores da empresa Nobre, em Rio Maior, concentrou-se hoje em frente à empresa, cumprindo a 13.ª greve por falta de resposta ao caderno reivindicativo.
A greve, a 13.ª convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB), acontece depois de mais uma reunião com a empresa que “negou todos os pontos do caderno [reivindicativo], não cedeu em nada e implementou em junho um aumento de cinco euros, pareceu bastante mal aos trabalhadores”, disse à agência Lusa o dirigente sindical Diogo Lopes, sustando não ser esse valor “que resolve os problemas que as pessoas têm hoje em dia”.
O caderno reivindicativo apresentado à empresa no início do ano exigia um aumento salarial de 150 euros, a valorização do subsídio de refeição e do trabalho noturno, a implementação de diuturnidades, direito a 25 dias de férias e o fim do recurso à contratação precária, entre outras reivindicações.
“Falamos de uma empresa em que os trabalhadores recebem o salário mínimo nacional, independentemente dos anos de casa”, disse o dirigente do Sintab, sublinhando haver “trabalhadores com 40 anos de casa que recebem o salário mínimo nacional e com o aumento do custo de vida, hoje em dia, é bastante difícil”.
De acordo com o sindicalista “a empresa nos últimos três anos teve um lucro de nove milhões de euros, portanto, tem todas as possibilidades de aumentar o salário a estes trabalhadores”, que reivindicam que o salário ascenda a 950 euros.
“Enquanto a empresa não vir que realmente é necessário implementar com urgência este aumento salarial os trabalhadores vão continuar em luta, garantiu Diogo Lopes, adiantando que já está agenda uma nova paralisação para o dia 11 de setembro, dessa vez integrando a realização de uma marcha lenta pelas ruas da cidade.
“A nossa luta tem que continuar”, afirmou Inês Santos, admitido que os trabalhadores façam “uma greve por mês até vencer pelo cansaço a empresa que recentemente “ainda retirou direitos”. Segundo a trabalhadora, a empresa retirou a majoração que dava a possibilidade de os trabalhadores sem faltas poderem gozar 25 dias de férias, estipulando que todos os trabalhadores passarão a gozar 22 dias úteis e o dia de aniversário.
Numa moção aprovada hoje os trabalhadores exigem a reposição dos 25 dias de férias e o aumento do subsídio de alimentação para oito euros diários, ao invés dos 5,30 praticados atualmente, depois de este subsídio “nos últimos 10 anos ter aumentado apenas 14 cêntimos”, disse Diogo Lopes.
Segundo o sindicato, a paralisação de hoje conta com a adesão de cerca de 80% dos mais de 600 trabalhadores da empresa.
Contactada pela agência Lusa, a Nobre Alimentação Lda não respondeu às questões sobre as negociações nem sobre o número de trabalhadores que aderiram à greve.
“[Estamos] sempre atentos às necessidades dos nossos colaboradores e da empresa”, afirmou a Nobre, numa resposta enviada por email, acrescentando que a administração “realiza reuniões frequentes com os sindicatos para discuti-las, de forma positiva e transparente”.
Na resposta a empresa reitera ainda o “compromisso de disponibilidade para dar continuidade às reuniões regulares” e, em conjunto com os trabalhadores, olhar “para o caminho a seguir”.
Os trabalhadores têm agendada uma nova greve para o dia 11 de setembro, data em que preveem concentrar-se em frente à câmara municipal.
Começo por realçar a resistência das pessoas, trabalhadoras e trabalhadores, que trabalham nesta corporação multinacional que, apesar das dificuldades inerentes aos miseráveis salários que recebem, persistem na luta por melhores salários, condições de trabalho, de higiene, segurança no trabalho e o fim da precariedade laboral.
Treze meses a perderem um dia de trabalho por mês e respectivos subsídios, persistem em enfrentar a prepotência e arrogância de uma corporação multinacional que adquiriu a empresa, com o objectivo de obter o máximo de lucro no mais curto espaço de tempo, explorando ao máximo a classe trabalhadora que garante e sustenta a ganância insaciável dos seus accionistas.
Esta corporação multinacional, como todas as outras, multinacionais ou não, por mais que explorem, oprimam e pilhem a riqueza produzida pelas pessoas da classe social trabalhadora, tem todo o apoio das autoridades oficiais locais, regionais e nacionais, (“Município distinguiu exemplos de sucesso em Gala Empresarial (…) Vencedores (…) Empresa Investidora: Nobre Alimentação”. Boletim Municipal – junho 2024).
O prolongamento da luta, como nos demonstra a história da classe trabalhadora, corre o risco de quebrar pelo lado, fase à correlação de forças, mais fraco, isto é: perante as dificuldades inerentes ao rombo, todos os meses, nos miseráveis salários que recebem, pode levar pessoas a desistir, reduzindo, assim, as que resistem e persistem em continuar.
É imperioso reforçar a união, organização e determinação de todas as pessoas que trabalham na empresa, porque todas estão a ser exploradas, oprimidas e humilhadas por esta corporação multinacional. Para isso, é imperioso que as trabalhadoras e trabalhadores, assim como as suas organizações de classe, avancem no sentido de enfrentar a empresa de forma integrada, isto é, organizando-se e coordenando as suas lutas como um todo, e não como se fossem empresas distintas.
É uma corporação multinacional e, para a enfrentar, com forte probabilidade de vencer, as pessoas que nela trabalham devem organizar-se, unir-se e encetar as lutas de forma coordenada, solidária e fraternal, envolvendo as trabalhadoras e trabalhadores de todo o grupo, e não por país.